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Religiosamente

Bastidores e curiosidades do mundo religioso

Perfil Anna Virginia Balloussier é jornalista.

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Qual é a sua graça?

Por annavirginia
04/11/13 12:50

Igreja A Serpente de Moisés Aquela Que Engoliu As Outras (Salvador)

Igreja Pentecostal Jesus Vem Você Fica (São Paulo)

Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade (Rio de Janeiro)

 

A depender dos nomes, o filão de igrejas evangélicas pode ser tão variado quanto um self-service que mistura bobó de camarão e yakissoba de frutas vermelhas. Em 2014, a exposição “Sabe o Nome da Igreja?” vai reunir algumas das nomenclaturas mais curiosas –vide os casos acima.

“Com todo respeito eclesiástico, claro”, diz a curadora Luciana Mazza, 38, ela própria fiel da Igreja Batista de Itanhaém.

A criatividade com as filiações religiosas dará o ar da sua graça no Salão Internacional Gospel, feira de negócios voltada a música e literatura, marcada para setembro do ano que vem.

Sabe o nome da igreja?

Aqui pertinho da redação da Folha, no centro de São Paulo, fica uma das igrejas selecionadas: a Cruzada Profética do Pai das Luzes (uma portinha de vidro próxima ao Minhocão, com um cavalete convidativo: “Marque aqui sua consulta espiritual gratuitamente”).

Outros favoritos:

Igreja do Sétimo Gole (Goiânia)

Igreja Evangélica de Abominação à Vida Torta  (São Paulo)

Igreja Batista Incêndio de Bênçãos (São Paulo)

Associação Evangélica Fiel Até Debaixo D’água (Recife)

Igreja ‘A’ de Amor (Paraná)

Igreja E.T.Q.B – Eu Também Quero a Bênção (Lumiar-RJ)

Igreja Evangélica Florzinha de Jesus (Londrina)

Igreja Cristo É Show (Belo Horizonte)

Igreja Evangélica Pentecostal A Última Embarcação Para Cristo (São Paulo)

 

FEIRA LIVRE

No mercado de feirões focado no público gospel, o rodízio de nomes valeria um post à parte.

A ExpoCristã, feira veterana que cancelou sua edição neste ano após “ventos não favoráveis” (foi desalojada por falta de pagamento), vai voltar em 2014, sob nova direção.

Foi lá que tomei, em 2011, um gole do “Beijo de Judas”. O copão a R$ 4, vendido no estande “Cocktail Gospel”, misturava caju, maracujá, grenadine e leite condensado (sem álcool).

No segmento, ninguém leva fé numa segunda edição da FIC (Feira Internacional Cristã), que neste ano marcou a estreia das Organizações Globo nesse nicho. A empresa global responsável, Geo Eventos, que já cuidou e depois abriu mão de eventos como o festival Lollapalooza, afirma que o calendário de 2014 ainda está “em planejamento”.

Em julho, vi gente literalmente vestindo a camisa na FIC: à venda, baby looks com estampas que imitavam a Coca-Cola (“Pecado Zero: viva o lado santificado da vida”) e o chocolate Prestígio (“Jesus Cristo: quem anda com ele tem prestígio”).

Enquanto isso, no mês passado, a Flic (Feira Literária Internacional Cristã) e Salão Internacional Gospel anunciaram a fusão para 2014. No material de divulgação, ressaltaram números como os R$ 15 bilhões que o segmento evangélico movimentaria por ano e os 73 assentos (de 594) que evangélicos detêm no Congresso, “a maior bancada em sua história”.

Um mês antes, na feira literária, folheei um exemplar de “Celebração do Sexo”, do americano Douglas Rosenau, que se identifica como terapeuta sexual cristão. O guia seria um “presente de Deus no casamento: o prazer sexual”, com um capítulo inteiramente dedicado ao sexo feito “sem tirar a roupa”.

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O UFC dos 'renascidos'

Por annavirginia
31/10/13 14:09

Em sermão narrado no Evangelho de Mateus, Jesus dava a cara a tapa: “Ao que te bate numa face, ofereça-lhe também a outra”.

Na igreja Renascer, o corpo todo é entregue a bofetadas. Nesta versão gospel do UFC, vale-tudo, literalmente, para conquistar mais fiéis.

O presbítero Baby, 33, está no centro do octógono alugado por R$ 3.000 e instalado no Renascer Hall, da igreja da bispa Sonia Hernandes (para quem lutadores como Vitor Belfort e Anderson Silva são “tudo de bom”).

Ele é um dos organizadores do URF (Ultimate Reborn Fight, ou “a melhor luta do renascido”), cuja segunda edição foi realizada no sábado, 26, no espaço na Mooca (zona leste de São Paulo).

NÃO É A MAMÃE

O presbítero Baby, líder do Reborn Team, equipe de luta livre da Renascer (foto: Anna Virginia Balloussier)

Baby nasceu Vagner Miguel e, até 2005, era um “desviado” que traficava de maconha a lança-perfume no Jaraguá (zona norte). “Bebia muito” até se converter “instantaneamente” durante um acampamento evangélico para jovens. Virou líder nacional do Reborn Team, a “equipe dos renascidos” da igreja.

Hoje, o faixa preta dá aulas de jiu-jítsu no Renascer Hall aos sábados, de graça, aberta a quem quiser chegar (outro instrutor ensina muay thai). Os atletas ouvem uma pregação após o treino.

Baixinho e atarracado, Vagner é Baby em homenagem ao bebê dos Silva Sauro, do seriado “Família Dinossauro” –aquele monstrinho que dá paneladas em quem “não é a mamãe”. Distribui sopapos no ringue, mas sempre com o intuito de evangelizar: a igreja vê no esporte uma isca para atrair públicos mais heterogêneos.

Essa pescaria começa na fila de homens com cabeleira tosada e manga curta (tamanho dois números menor, levando bíceps a pularem para fora feito restinho de pasta de dente no tubo). Também há crianças e mulheres –algumas com bebê no colo, outras com decote idem.

“Nós abominamos isso: roupa curta, indecência. Sensualidade não cabe na nossa visão”, diz Baby, cabeça balançando, a namorada ao alcance da visão (uma loira de calça comprida estilo legging, cabelos longos, lisos e platinados).

Entre UFC e URF, as diferenças não vão muito além de letras trocadas e a ausência das moças rebolativas de short curto na arena gospel.

Sobram sangue e nocaute nas lutas. As torcidas, exaltadas, não raramente subvertem o segundo mandamento: tomarás, sim, o nome do Senhor em vão, e também o da senhora sua mãe, sobretudo se o lutador de sua preferência estiver beijando a lona.

“Quem fala palavrão eu entendo que não é cristão”, me diz a assessora de imprensa da Renascer, que “ama” a pancadaria na igreja. “Ajuda a trazer os ímpios pra cá.”

Quem não frequenta igreja, no léxico evangélico, pode ser chamado de ímpio (“que tem desprezo pela religião”) ou secular (“que não cabe à Igreja, profano”), em duas definições do Houaiss.

Como na versão tradicional, há limites no URF: não pode cotovelada, golpe nas partes íntimas, agredir o rosto e “bate-estaca” (bater a cabeça do adversário repetidamente contra o chão), segundo Baby.

Lutadores no octógono instalado no meio da igreja para o URF – Ultimate Reborn Fight (Foto: Abdiel Silva e Bruna de Paula)

“Senhoooooras e senhooooores, irmãããããos e irmãããããs!”

No sábado, o evento começou às 20h25, com um pedido de oração e a saudação do pastor. Nem todos os competidores (que atendem por nomes como Eduardo Peludo, Beto Anjo Loiro e Felipe Cabelo) são evangélicos.

Do lado de fora, algumas barraquinhas vendem itens para o público bombado. Uma camisa de R$ 35 leva na estampa:

 

Li que fumar fazia mal

Parei de fumar

Li que beber fazia mal

Parei de beber

Li que bomba fazia mal

Parei de ler

 

Daniel Barone, 36, é “terminantemente” contra anabolizantes e afins, que vão contra as diretrizes do seu credo, diz.

Ele administra sua banquinha de produtos naturais trazidos de Belém do Pará, como o gel relaxante muscular (R$ 20) e o aromatizador bucal sabor framboesa (R$ 15). Também vende chaveiros com luvinhas de boxe (R$ 10).

Profissão: personal trainer. Bíceps: duas bolas de ferro sob cada braço. Igreja: Comunidade da Graça, no Tatuapé.

Daniel não vê incoerência entre professar sua fé e aderir à luta livre. “Futebol também é violento. Às vezes morre gente na torcida”, ele diz enquanto negocia um frasco de guaraná em pó com uma cliente em potencial.

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PAC - Programa de Aceleração do Credo

Por annavirginia
29/10/13 13:57

O governo Fernando Haddad (PT) fez um aceno aos religiosos na sexta passada, 25, nada por acaso o Dia do Pastor.

Começou ali seu “PAC – Programa de Aceleração do Credo”, como bradava um líder evangélico no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo (o de gravata com estampa de pombas e bigodinho à Clark Gable).

O pacote de benesses incluiria abrandar a Lei do Psiu para cultos barulhentos (menos igrejas multadas) e facilitar construção e regularização de templos (mais igrejas liberadas).

Nada saiu do papel ainda, mas o discurso do presidente da Casa, vereador José Américo (PT), foi animador para o segmento. Diante de plateia de pastores, fazendo as vezes de “pagador de promessas”, Américo quitou parte da fatura pelo apoio de evangélicos a Haddad nas eleições.

Foram três parcelas:

1) Fazer uma “diferenciação” na Lei do Psiu, usada para multar igrejas que ultrapassem o limite de ruído permitido (entre 50 e 70 decibéis, nas zonas residenciais, industriais ou mistas).

Em 2011, a revista “sãopaulo”, da Folha, mediu o barulho feito por uma igreja evangélica na rua das Palmeiras, no centro paulistano: 92 decibéis (na mesma pesquisa de campo, a parte de cima do Minhocão oscilou entre 85 e 95 decibéis).

José Américo pediu “mais tolerância” e afirmou que não dá para tratar “boate, roda de samba, pagode e vigília do mesmo jeito”. Muito barulho por nada? A conferir.

2) Liberar a construção de templos religiosos nas chamadas “vias locais” –geralmente ruas menores, mais residenciais, com velocidade máxima de 30 km/h. O veto tem como propósito inibir ruídos e interferências no trânsito da região.

Segundo Américo, essa ideia será abordada no Plano Diretor, que teve sua primeira audiência pública no sábado (27).

3) Regularização de templos. O vereador estimou, num “cálculo conservador”, que metade deles está irregular (ressaltando não ter dados a mão, chutou que a cidade tem cerca de 10 mil igrejas evangélicos e até 3.000 católicas).

Jogou na roda a seguinte alternativa: inserir as igrejas numa lei sancionada por Haddad em setembro, que prevê isenção do Habite-se e anistia para estabelecimentos irregulares de até 5.000 m² (que teriam dois anos para se ajustarem à lei).

O petista defende alvarás provisórios para lugares que não apresentem, por exemplo, riscos de segurança. Diz que a medida beneficiaria sobretudo o templo da periferia, “que está irregular porque foi construído a duras penas”.

E criticou: “O governo multa e depois vai fazer média com eles [religiosos]”.

Dostoiévski e a Igreja Universal

José Américo (segundo, da esq. para a dir.), em cerimônia na Câmara para celebrar o Dia do Pastor

José Américo, católico, sublinha: tem um pastor no seu time de assessores. Ao presidir a cerimônia em homenagem aos líderes, elogiou programas de recuperação de dependentes em drogas tocados por entidades religiosas.

Para tanto, citou Dostoiévski (“Os Irmãos Karamazov”), que por sua vez parafraseara o Evangelho de João: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”.

No mesmo dia, o plenário da Câmara Municipal foi tomado por obreiros da Igreja Universal, que recebiam homenagem à parte, promovida pela bancada do PRB. A igreja é conhecida por evitar aproximações com outras linhas evangélicas –O bispo Edir Macedo, em metáfora pouco sutil, já pregou contra a arte de misturar vinhos.

O pátio da Câmara ficou lotado de auxiliares da igreja que não conseguiram lugar no plenário e tiveram de assistir ao ato solene pelo telão: um batalhão de saia no joelho e terninho azul-marinho (para elas) e camisa branca e calça do mesmo azul, mais a gravata pontilhada de corações vermelhos com a pomba branca no centro, símbolo da Universal  (para eles).

Seriam os “Jesus Blocs”, segundo uma mocinha de coque preso por um palito com –de novo ela– uma pomba branca de porcelana na extremidade.

Obreiros da Igreja Universal lotam plenário da Câmara Municipal para receber homenagem

 

 

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No princípio era o verbo

Por annavirginia
29/10/13 00:00

Caro leitor,

Talvez você seja católico, evangélico, espírita, muçulmano, judeu, budista, hinduísta, corintiano ou adorador de bacon torradinho na manteiga.

Talvez não acredite em nada disso, talvez acredite em tudo ao mesmo tempo.

Três vezes por semana, este blog contará um pouco dos tantos “talvezes” que permeiam o fascinante mundo das certezas religiosas. Um pouco de tudo: dos bilhões que o setor movimenta no mercado de negócios às pequenas histórias que somam, subtraem, multiplicam e dividem nosso incalculável estoque de fé.

Talvez você esteja se perguntando: e quem ela pensa que é para falar da minha religião?

Então vamos lá: nesse sentido, ninguém. Não estou aqui para dizer o que é certo ou errado. Nem para ser condescendente. Tampouco jogar primeiras pedras, tomates ou bytes.

A ideia não é julgar. É escrever sobre um Brasil que está mudando. Por exemplo: o censo do IBGE aponta que, entre 2000 e 2010, a proporção de católicos no Brasil foi de 74% para 64,5%. Já os evangélicos galoparam de 15% para 22% (42 milhões de brasileiros). Por isso, pretendo gastar mais do que um punhado de linhas para falar sobre um segmento tão emergente e, ao mesmo tempo, tão pouco compreendido por quem é de fora.

Agora, sim: sou Anna Virginia, prazer. Na verdade não gosto de bacon (estou mais para aquelas que curtem uma soja grelhadinha no azeite orgânico). Torço para o Botafogo (a depender dos últimos placares, um bom exemplo de via-crúcis). Fui alfabetizada num colégio com nome de santo católico no bairro de Santa Teresa, no Rio, que ficava perto de uma igrejinha (a qual nunca frequentei). Depois migrei para uma escola metodista, do movimento protestante fundado por John Wesley no século 18 (um inglês que guarda semelhança extraordinária com o senhor das caixas de Aveia Quaker).

Boa parte da minha família é espírita (“não praticante”), batizada na Igreja Católica (“melhor garantir”), cheia de estátuas de Buda na sala de estar (“para trazer paz”) e com gosto em virar madrugadas assistindo aos pastores na TV (“o do chapéu de vaqueiro é demais!”).

Em “Pulphead”, o ensaísta norte-americano John Jeremiah Sullivan (que também é demais) escreve sobre a experiência de passar três dias num festival de rock cristão. Narra sua aventura com “os crentes” –como o ex-atleta peso pesado de luta livre (do tipo que estoura um abacaxi no sovaco gargalhando) que se encanta com “Redemption Song”, de Bob Marley.

Sullivan conta quão fácil seria descolar uma ou outra declaração sobre “fazer música com espírito amoroso para glorificar o Senhor” e então “rabiscar cada vírgula sorrindo por dentro”. E como o que ele faz é precisamente optar pelo trajeto mais difícil: ir lá, acampar com os “caras da Virgínia Ocidental em chamas por Cristo” e conhecer um pouco da realidade deles.

A proposta deste blog é esta: ir lá, sem réguas ideológicas, e conhecer um pouco da realidade deles.

Pedras, tomates ou bytes no e-mail anna.virginia@grupofolha.com.br. Bem-vindos!

Três livros sagrados em miniatura: o Alcorão muçulmano, o Bagavadguitá hindu e a Bíblia cristã

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