ReligiosamenteReligiosamente http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br Bastidores e curiosidades do mundo religioso Tue, 03 Feb 2015 21:35:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Pergunte à Raíssa http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/02/03/pergunte-a-raissa/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/02/03/pergunte-a-raissa/#respond Tue, 03 Feb 2015 21:34:11 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=677 Continue lendo →]]> Intolerância

Aí em cima você vê uma reportagem da “TV Folha” sobre intolerância religiosa. Isso existe no Brasil?

Pergunte à Raíssa.

Na escola, o coleguinha “valentão” dizia ter “nojinho” dela. “Ele ficava me xingando de macumbeira. Todo mundo ficava com nojo de mim.”

Pouco adiantava reclamar à diretora da escola: segundo seus pais, Alexandre Espanha, 40, e Vanessa Cordor, 37, ela era evangélica e não dava muita bola para o bullying contra a filha de oito anos.

De tanto ver os adultos dançaram para os orixás, Raíssa pediu aos pais para virar mãe de santo. Durante as férias escolares, começou sua iniciação no candomblé.

Chamado de “preceito”, o ritual é secreto e envolve 21 dias de “isolamento e resguardo”. Ela perdeu parte do cabelo e ficou várias horas trancada num quarto pequeno, com ícones de sua religião.

Raíssa confessa que ficou “um pouco irritada” com o tédio daquilo tudo, mas tudo bem, sabia que era para o bem maior.

Um vizinho da família discordava. Muito estranho, aquela menina toda de branco presa em casa… Não era de Deus. Ligou para a polícia e fez uma denúncia anônima de cárcere privado.

Quando o PM bateu na porta, Alexandre Espanha, pai de Raíssa e também de santo, perdeu as estribeiras. “Ele invadiu. Matei na hora que era evangélico.”

A ideia de que há uma “guerra religiosa” entre evangélicos e adeptos de religiões afrobrasileiras não é nova. No dia 29 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, bati um papo com um pastor e um babalorixá sobre o conflito. As faíscas foram tantas que um internauta sugeriu “pegar a pipoca” para acompanhar a transmissão ao vivo.

NÓ EM COBRA

Vamos por partes: nem todo pai de santo é santo, nem todo evangélico é intolerante.

O secretário municipal da Promoção à Igualdade Racial, Antonio Pinto, por exemplo, é “crente”. Fiel da igreja Batista, é também o primeiro a criticar quando agentes da própria Prefeitura de São Paulo fecham terreiros de umbanda ou candomblé.

Também lembra que padres e pastores são bem-vindos para acudir pacientes terminais em hospitais públicos ou privados. Um babalorixá, contudo, muitas vezes não passa da porta de entrada. O mesmo vale para ritos em cemitérios.

Muitos evangélicos, contudo, pensam diferente. O “chuta que é macumba” parece mais forte entre os neopentecostais –linha que inclui igrejas como a Universal e a Mundial do Poder de Deus.

É aí que desafina o Brasil “miscigenado, ecumênico e religiosamente sincretizado” que Martinho da Vila cantou. Cerca de 575 mil pessoas declararam pertencer à umbanda ou ao candomblé no censo de 2010, contra 42 milhões de evangélicos.

Líderes como o pastor Joaquim de Andrade, da Igreja Batista Ágape, são taxativos: ninguém pode partir para a agressão, como sair quebrando tudo em terreiros, mas tentar cooptar “pecadores” para a “verdade cristã” é válido, sim.

Ele já foi multado em R$ 1.000 pela Justiça por se vestir de branco (“como eles”) e distribuir panfletos evangélicos durante rituais de umbanda, em festa para Iemanjá, na Praia Grande (“um lugar público”), litoral de São Paulo.

O pastor Joaquim diz que, ao contrário de outros credos, o cristianismo é “fundamentado”, vide a Bíblia (versus a tradição oral da umbanda e do candomblé).

“Por exemplo, quando o espírito de Maria Padilha se manifesta da vida de uma pessoa. Se é homem, vai para o homossexualismo. Se é mulher, vai para a prostituição, o adultério, a pedofilia, esses absurdos.”

Para o professor da USP Reginaldo Prandi, as religiões evangélicas não toleram a ideia de múltiplos deuses. Já credos afrobrasileiros, em vez de ejetar, incorporam deuses de outras culturas. Mais ou menos como Roma fez ao incorporar o Olimpo grego ao seu rol divino.

A mãe de santo Juju de Oxum, 79, acha que o “abuso dos crentes está demais”, mas não gosta de falar no lado mais fraco da corda.

“Nós somos fortes. A gente não cai, não. Sei dar nó em cobra. Sei sorrir, sei cantar e sei chorar ao mesmo tempo.”

Mãe Juju de Oxum: 'O abuso dos crentes está demais' (Gabriel CabralFolhapress)

A mãe de santo Juju de Oxum (Gabriel CabralFolhapress)

]]>
0
Dá pra tolerar? http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/01/21/da-pra-tolerar/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/01/21/da-pra-tolerar/#respond Wed, 21 Jan 2015 22:49:02 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=670 Continue lendo →]]> Até que ponto meu direito religioso termina quando começa o do outro?

Se um pastor se vestir de branco e, “disfarçado”, pregar o evangelho numa praia –lugar público– durante um culto a Iemanjá, ele estará nadando contra a maré da tolerância religiosa?

Quem joga a primeira pedra: o fiel que invade terreiros ou o pastor de sua igreja que chamou Oxum de boba, feia e chata?

Minha religião diz que a sua é pecado. Como bom cristão, não é meu dever tentar convertê-lo?

Pode chamar de macumbeiro? E de crente? Palavras ferem mais do que pedras?

Não tenho a resposta pra nada disso aí em cima, não. Mas conversei uma hora com o babalorixá Rodney William, doutorando em antropologia na PUC-SP, e o pastor Sezar Cavalcante, reitor da Faculdade Teológica Betesda, em Campinas (SP), para tentar por que tanta gente fala em “guerra religiosa” ao opor evangélicos e adeptos de religiões afrobrasileiras.

O debate foi ao ar nesta quarta (21), ao vivo, na “TV Folha”. Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa, aliás.

Nas redes sociais, leitores reagiram ao bate-boca dos convidados.

Francisco comemorou: “Tem um pastor e um pai de santo debatendo a intolerância religiosa na#tvfolha, vou pegar a pipoca”.

“Começaram a ser intolerante entre eles mesmo, vai entender!”, comentou Cristiano.

Entendamos, pois. Sal a gosto.

]]>
0
Islamofobia à brasileira http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/01/15/islamofobia-a-brasileira/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/01/15/islamofobia-a-brasileira/#respond Thu, 15 Jan 2015 16:35:04 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=658 Continue lendo →]]> Jogaram pedra na Sarah. Cuspiram na Ana Paula. Ameaçaram matar Luara.

Para essas três muçulmanas, o mito do Brasil plural e tolerante foi por véu abaixo nos últimos dias. Após o ataque ao “Charlie Hebdo”, atos anti-Islã ricochetearam pelo planeta feito bilhar. Por aqui, a islamofobia subiu pelas paredes.

Mesquita Brasil, em São Paulo: o piche continua lá

A Mesquita Brasil, em São Paulo, foi vandalizada após o atentado. O piche continua lá.

Em São Paulo, a Mesquita Brasil, maior templo da religião no país, foi pichada no dia seguinte à chacina. Até a noite desta terça (13), o piche continuava lá: “Je Suis Charlie”, mote solidário às vítimas francesas que viralizou nas redes sociais com a força de dez “Guarani-Kaiowá”.

A professora de teatro Sarah Ghubara, 27, recebeu uma pedrada a caminho de um posto de saúde na capital paulista, onde tinha consulta médica. “Quando passei por um terreno baldio, ouvi a voz de um homem me chamando de muçulmana maldita. Alhamdulillah [graças a Deus] a pedra pegou na minha perna. Pelo impacto, se tivesse pegado na cabeça, teria feito um estrago.”

Ela voltou para tentar identificar seu agressor, sem sucesso. “Ele saiu correndo para o outro lado da rua.”

Sarah lembra outros episódios de agressão. Um “irmão muçulmano teve seu para-brisa arrancado por maldade”, em frente a uma mesquita, exemplifica.

Ela conta que se “reverteu” há quatro anos. “O Islã acredita que todos nascemos muçulmanos, mas no Ocidente acabamos por crescer no contexto cristão. Então você se converte a uma religião e, quando vira muçulmana, reverte a situação.”

“A revertida” reclama que o Ocidente tem dois pesos e duas medidas para conflitos mundiais. No Facebook, publicou uma foto lembrando os estimados 2.000 mortos na Nigéria, numa onda de atentados na mesma semana do “Charlie Hebdo”. Seria o maior massacre do Boko Haram, que defende um Estado sob a sharia (lei islâmica). “Je suis África… Charlie é meu ovo. (eu não tenho ovo, mas se tivesse seria)”, escreveu.

Sarah fotografou a pedra que lhe atingiu a perna

Sarah fotografou a pedra que jogaram nela; também foi xingada de “maldita”

A publicitária Ana Paula Barcellar, 27, também passou por apuros. Como de costume, ela pôs o véu e saiu pelas ruas de Bueno Brandão, cidade mineira com 11 mil habitantes, daquelas onde todo mundo se esbarra na praça central.

Levava o filho de seis anos ao único clube aquático do município –usa só o parquinho e a quadra “pois não pode entrar de roupa na piscina”.

Devido a um problema de visão, ela só distinguiu vultos do casal à sua frente. Não conseguiu reconhecer o autor da cusparada que levou, seguida de um “conselho” para ela, “a assassina”. “Ninguém quer você aqui, não”, ela reproduz o que escutou do homem.

Quem passava por ali seguiu a vida como se fosse um dia como outro qualquer.

Não era. Mais precisamente, era 8 de janeiro, um mau dia para ser muçulmano, segundo Ana Paula.

Na véspera, dois homens gritaram “Allah akbar” (Alá é grande) antes de abrir fogo na redação do “Charlie Hebdo”, o jornal que desenha Maomé dando um beijo molhado na boca de um cartunista com o mesmo desembaraço que retrata cardeais católicos subindo a batina e enganchando uma ciranda erótica.

Ana Paula se converteu ao Islã quando tinha 17 anos, por influência de uma amiga libanesa. Enquanto a maioria das amigas sonha com véu e grinalda, ela prefere só o véu. Alterna no Facebook fotos de gatos fofinhos com ilustrações em defesa do traje religioso –como uma bonequinha de traços mangá que comemora: “Hijab é liberdade!”.

No dia a dia, o preconceito é menos escancarado, embora esteja lá, diz. Vai do assédio das igrejas evangélicas à escola do filho, “que não tem nada de laica e direciona tudo ao cristianismo, do coelhinho da Páscoa à leitura da Bíblia”.

É GUERRA?

Nos dias consecutivos ao atentado, condenado por grande parte da mídia árabe, a barra pesou para muçulmanos. Líder da extrema-direita, Marine Le Pen declarou: “O islamismo declarou guerra a nosso país”.

Recém-lançado, o livro “Submissão”, de Michel Houellebecq, virou best-seller ao imaginar uma França governada pela fictícia Fraternidade Muçulmana em 2022. O partido de mentirinha defende conversão ao Islã, patriarcado, poligamia e mulheres usando véu e virando donas de casa.

Assim que soube do atentado, o sheikh Jihad Hammadeh, da Mesquita Brasil, lamentou. Pelos mortos e pela comunidade muçulmana, inclusive a brasileira, com 35 mil membros, segundo o censo do IBGE em 2010 . “Pensou-se: pronto, vem ainda mais discriminação para o nosso lado”, disse em entrevista à “TV Folha”.

“Uma muçulmana foi atacada pelas costas a murros, socos e xingamento de ‘terrorista’. Mas isso é exceção, sabemos que o povo brasileiro não é assim”, afirmou o sheikh, sem identificar a vítima.

Exceção que virou regra na vida da estudante de psicologia Luara Oliveira, 21. Desde que aderiu ao Islã, nove meses atrás, ela passou a receber “olhares brutos” nas ruas, bem mais ameaçadores do que outro gracejo recorrente –pessoas que gritam do nada “inshalá”, bordão imortalizado pela novela “O Clone” (2001-2002) e que em português pode ser traduzido como “se Alá quiser”.

Após o ataque na França,o tom subiu. Luara fazia cooper em Brasília, acompanhada de sua mãe, quando o preconceito puxou seu pé. Um carro cinza encostou na dupla, e um homem gritou que mataria “todas essas desgraças”.

Ela também ficou com medo do ódio que contaminou a internet feito perfume ruim em elevador.

Há vários exemplos pinçados em sites e redes sociais. Enquanto Silvio pondera que “a diferença entre o muçulmano radical e o moderado é que o moderado ‘apenas’ irá aplaudir enquanto o radical nos corta a cabeça”, Anderson lança a pergunta no ar. “Como ser tolerante com os intolerantes?” Alexandre alerta: “O perigo muçulmano já ronda o Brasil há anos, especialmente em Foz do Iguaçu”. Juliana vai direto ao ponto. “Já explodiu um muçulmano hoje?”

]]>
0
Meu Deus http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/12/15/meu-deus/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/12/15/meu-deus/#respond Mon, 15 Dec 2014 18:29:14 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=647 Continue lendo →]]> Os irmãos rastafári Davi, Núbia e Ana Flor (Gabriel Cabral/Folhapress)

Os gêmeos Davi e Ana Flor e a caçula Núbia (no meio) com o cajado rastafári (Gabriel Cabral/Folhapress)

Nove crianças, nove religiões e nove jeitos de encarar o sagrado. Entendeu ou quer que elas desenhem?

(Matéria minha e do editor de foto da sãopaulo, Gabriel Cabral, publicada na Serafina deste mês.)

Graças aos Deuses

Onde está seu Deus agora? Bom, depende.

Enquanto o Pai Nosso da católica Beatriz vive dentro de um coração, o da rastafári Núbia tem dreadlocks e habita um deserto com montanha e cachoeira.

Deus é a atração principal do teatro, na visão do judeu Luke. Às vezes Deus nem é ele, é ela –a orixá de vestido amarelo que protege a aspirante a mãe de santo Manuella.

No censo do IBGE de 2010, a maioria dos brasileiros (64%, ou 123 milhões), diz ser “católica apostólica romana”.

Mas quem tem fé nem sempre vai a Roma. Em segundo e terceiro lugar, estão os evangélicos (42 milhões, ou 22%) e os espíritas (3,8 milhões, 2%). E existe uma leva considerável de 643 mil brasileiros que declararam múltipla religiosidade.

Convidamos nove crianças de religiões distintas para desenhar o divino. Cada um por si e Deus para todos.

]]>
0
Marina critica 'políticos evangélicos' http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/26/marina-contra-os-politicos-evangelicos/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/26/marina-contra-os-politicos-evangelicos/#respond Fri, 26 Sep 2014 18:47:55 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=635 Continue lendo →]]> Marina Silva, presidenciável do PSB, em ato eleitoral (AP Photo/Silvia Izquierdo

Marina Silva, presidenciável do PSB, em ato eleitoral (AP Photo/Silvia Izquierdo)

Em “agenda secreta” com 200 lideranças evangélicas, a presidenciável Marina Silva (PSB), ela própria missionária da Assembleia de Deus, apontou diferenças entre “evangélico político” e “político evangélico”.

O segundo grupo “instrumentaliza a fé” ao transformar “púlpitos em palanques” e vice-versa. Aí que mora o perigo, segundo a candidata. “Vocês sabem que jamais fiz isso.”

A defesa do Estado laico prevaleceu em seu discurso. “Conheço pessoas que não professam nenhuma fé e que são mais éticas do que outras que arrotam a fé todo dia.”

Afirmou que não pode adotar um discurso “de conveniência” entre “irmãos e irmãs” –defende “entre quatro paredes” a mesma coisa que grita “do telhado”.

Ela refutou a “visão equivocada” de que, por ser evangélica, tentaria impor sua religião. Citou como exemplo seu habitat político: não tentou “transformar” nem o judeu Walter Feldman nem a católica praticante Luiza Erundina, ambos coordenadores de campanha seus.

Lembrou também que Eduardo Campos, à frente da chapa presidencial do PSB antes de morrer numa queda de avião, “era um homem de fé”, outro “católico praticante”.

Marina pediu que a morte de Eduardo Campos seja “um sofrimento que concorra para um bem”.

Ela repetiu fala recorrente de que “governará com os melhores”. Fez uma crítica velada a alianças de PT e PSDB no passado: “Acho que será mais fácil dialogar com FHC e Lula do que com Sarney e Antonio Carlos Magalhães”.

Foi uma das poucas alfinetadas na manhã desta sexta-feira (26). Sob intenso ataque da petista Dilma Rousseff e do tucano Aécio Neves, Marina diz a estratégia será “oferecer a outra face” e “não tentar “destruir” nenhum dos dois.

“O Deus que me ama ama também a Dilma, ama também o Aécio.”

‘SÓ DE GLÓRIA’

Fora da agenda que a candidata divulga diariamente para a imprensa, o evento começou às 10h30, no clube Homs, na avenida Paulista.

Para introduzir, o Hino Nacional e, em seguida, um hino gospel. Nesse momento, a pastora Valnice Milhomens, sentada ao lado da “amiga ferrenha” Marina, levantou-se da primeira fila, virou-se para a plateia, agitou os braços como um maestro e pediu que o público cantasse o refrão “agora só de glória”.

Com blusão branco afivelado por cinto marrom, saia longa e estampada e coque preso por uma fivela, Marina foi chamada para dividir mesa com os pastores Valnice, Ed René Kivitz (Igreja Batista da Água Branca) e Lélis Marinho, do conselho político da Assembleia de Deus.

Aí as fronteiras entre religião e política viraram gelatina.

Lélis ressaltou que ela seria “presidente de todos os brasileiros” sob o “princípio primordial do temor ao Senhor”.

Em seguida, disse que “princípios éticos e morais estão sob ameaça”, sem especificar quais. Considerado progressista, Ed René afirmou que “o imaginário da nossa sociedade” confunde “evangélico com xingamento”.

É preciso combater a ideia de que ser evangélico é ser “ignorante, moralista, intransigente, homofóbico, intolerante”, continuou. Pediu ainda “respeito às consciências individuais” e “compromisso com a defesa dos direitos humanos e das minorias”.

O problema é a “caricatura nefasta” dos evangélicos, incentivada por “ufanismo e messianismo” no meio gospel, disse à Folha o pastor, que guarda certa semelhança física com o candidato a governador Alexandre Padilha (PT).

Segundo Ed René, Marina “fica louca” com esse tipo de postura. “Igreja não pode ser parte do governo, assim como Corinthians não pode ser parte do governo Lula”, disse.

NÃO NOS REPRESENTA

Há alhos e bugalhos entre evangélicos, disse um pastor convidado, na mesa do cafezinho. Ecoava uma ideia recorrente entre a plateia: líderes como Silas Malafaia e Marco Feliciano têm projeção na mídia, mas estão longe de ser unanimidade no segmento.

Malafaia, por exemplo, “não teve qualquer influência” na decisão de Marina em retirar trechos pró-direitos LGBT de seu programa de governo, segundo Valnice.

A líder da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo trata o episódio como um “engano”, e não um “recuo” da candidata, já que Marina nunca teria defendido o casamento homoafetivo.

“Tem uma constituição que é a Bíblia sagrado. E ela diz que Deus criou macho e fêmea”, disse, acrescentando que a presidenciável pensa como ela.

A pastora diz fazer um jejum de 40 dias antes das eleições (“me alimento praticamente da cruz”), uma “feliz coincidência” com o número de Marina nas urnas, também 40.

]]>
0
Arte? Blasfêmia! Blasfêmia? Arte! http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/24/arte-blasfemia-blasfemia-arte/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/24/arte-blasfemia-blasfemia-arte/#respond Wed, 24 Sep 2014 11:08:38 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=623 Continue lendo →]]> A Virgem Maria, coberta de baratas e escorpiões na exposição 'Erras de Deus' (Reinaldo Canato/UOL)

Virgem Maria, baratas e escorpiões na mostra ‘Errar de Deus’ (Reinaldo Canato/UOL)

Bem-vindo a “uma verdadeira Babel de ódio a Deus”.

Virgem Maria ora é travesti, ora está coberta por baratas. Uma das salas se chama “Dios es maricas” (Deus é bicha). Visitantes são convidados a fazer “procissão” dentro de úteros gigantes, onde cortinas vermelhas delimitam “espaços para abortar”.

Daniel Martins, 28, está horrorizado. “É um acinte à religião, ao Deus nosso Senhor. Um guia convidou alunos a assinar uma petição pela abolição do inferno”, afirma à Folha o coordenador da ação jovem do IPCO (Instituto Plinio Corrêa de Oliveira).

O grupo traz no nome o fundador da TFP (Tradição, Família e Propriedade), organização católica conservadora que crê: “Depauperar a família destrói a civilização”.

Agora, querem fazer barulho. Um buzinaço, para ser mais preciso, contra a 31ª Bienal de São Paulo —anunciada oficialmente como a mostra da “transgressão, da transcendência e da “transexualidade”.

Segundo Martins, eles imprimiram 50 mil panfletos para denunciar “aborto, blasfêmia e sacrilégio” na exposição.

Católicos protestam contra 'obras sacrílegas' na frente do metrô Butantã

Católicos do IPCO protestam contra ‘obras sacrílegas’ da Bienal em frente ao metrô Butantã, em SP

Elencam dez momentos que poderão ser vistos por “seu filho, sobrinho ou neto” em excursões de colégios —por isso, incentivam o envio de mensagens de protesto a diretores de escolas paulistanas.

O movimento sugere ainda pressionar o cardeal de São Paulo, Dom Odilo Scherer. Ele deveria se valer “de sua grande influência –que aliás corresponde a sua sagrada missão de pastor– para impedir que esses sacrilégios continuem a ser cometidos em sua jurisdição”.

A assessoria da Arquidiocese paulista diz que dom Odilo visitará em breve a Bienal e, aí, avaliará se cabe tomar alguma posição.

CRUZADA

Cerca de 40 voluntários vêm distribuindo o manifesto pela cidade. Nesta semana, estiveram em frente ao metrô Butantã e à PUC. A avenida Paulista é uma das próximas paradas. “Blasfêmia não é arte, não é ‘liberdade de expressão'”, diz o documento.

O IPCO também gravou um vídeo expondo a “ditadura feminista” do coletivo boliviano “Mujeres Creando”, responsável pela instalação pró-aborto. No material publicado na internet, vários “piiiis” substituem palavrões de mulheres injuriadas com a presença do grupo no pavilhão da Bienal.

A mentira tem oito pernas curtas para Martins. Na sua opinião, a exposição já mostrou a que veio ao eleger como símbolo desenho “de um hindu” (o indiano Prabhakar Pachpute): a torre de Babel movida por oito perninhas.

Para a equipe de curadores da Bienal, “a arte reflete sobre questões que afetam a vida das pessoas”.

“Falar de coisas complexas, invisíveis ou apagadas é fundamental. Acreditamos  que o debate publico que esta surgindo é importante para tratar de assuntos tão delicados como o direito das mulheres de tomar decisões sobre os seus próprios corpos, a questão da liberdade sexual e o lugar e papel da religião e da fé na nossa sociedade.”

O peruano Giuseppe Campuzano retrata Nossa Senhora como travesti (Reinaldo Canato/UOL)

O peruano Campuzano retrata Nossa Senhora como travesti (Reinaldo Canato/UOL)

]]>
0
A conversão de Marina http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/04/a-conversao-de-marina/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/04/a-conversao-de-marina/#respond Thu, 04 Sep 2014 16:42:32 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=618 Continue lendo →]]> Neste vídeo, postado nas eleições de 2010, Marina Silva conta sobre sua conversão à fé evangélica. 

Criada no catolicismo, ela já quis ser freira. Em 1995, senadora da República, passava de médico em médico por conta da saúde frágil. Um deles, em Brasília, disse que ela precisava mesmo “era de um milagre”.

Marina achava tudo aquilo “fora do prumo para um médico”. Sentiu-se “com raiva” e “constrangida” quando o doutor ligou para um pastor de 20 anos com voz de ancião e a pôs na linha.

Pastor André receitou uma bateria de orações e quis saber mais da paciente. Marina desconfiou. “Como eu tenho tudo o que é doença, qualquer uma que ele falar ele vai acertar. Fiquei ali armada que só um siri dentro da lata.”

A candidata começou a frequentar a igreja e se consagrou missionária da Assembleia de Deus em 18 de novembro de 2004.

Em 2010, assim comparou sua transição de católica para evangélica, em entrevista à Rolling Stone Brasil: “Suponhamos que você se apaixone por uma moça e de repente, sem saber, sem querer, você se apaixona por outra. Por que mudou?”

Põe fé

]]>
0
Meu bisavô, o cientologista http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/01/meu-bisavo-o-cientologista/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/09/01/meu-bisavo-o-cientologista/#respond Mon, 01 Sep 2014 16:44:38 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=613 Continue lendo →]]> Jamie DeWolf, em Oakland (Jason Henry)

Jamie DeWolf, em Oakland (Jason Henry)

Jamie DeWolf, 36, nunca conheceu seu bisavô. Mas acredita que eles têm mais em comum do que a vasta cabeleira ruiva.

“Somos dois maníacos com propensão para controlar grandes massas, sensibilidade inata para ser fora da lei, personalidade mais louca e geniosa do que um Minotauro menstruando… E Deus sabe mais o quê.”

Está no DNA: Jamie acredita que, como L. Ron Hubbard (1911-1986), o fundador da cientologia, veio à Terra com uma missão: “Ser o centro das atenções”.

Sucesso até agora. Estamos num galpão de shows em Oakland, que está para São Francisco como Guarulhos para São Paulo. O preto de calça, blusa, sapato e chapéu contrasta com o vermelho da barba e do suspensório.

Jamie é uma espécie de canivete suíço com mil utilidades: dirige e atua em filmes, escreve poesias marginais, produz espetáculos amalucados.

Como o desta noite, “Tourettes without Regrets” –para quem “não se arrepende da síndrome de Tourette”, aquela que pode fazer a pessoa emitir palavrões de forma involuntária. “Criei este show como refúgio para os renegados, um clube para qualquer tipo de arte que poderia se safar.”

O espetáculo de ares burlescos reúne dezenas de jovens com cervejas baratas em punho. Tem uma dança das cadeiras com todos os participantes de calças arriadas e um número em que três casais seminus simulam posições sexuais com uma melancia –para essa parte, a primeira fila foi coberta com uma lona de plástico

GENGIS KHAN

Jamie se define como um Gengis Khan verbal, em referência ao sanguinolento líder do mundo antigo, e se orgulha de certa vez pedir à plateia para nocauteá-lo “até me deixar inconsciente” (foi prontamente atendido).

Mas acha que a viagem maior quem teve foi seu antecessor. Quando criança, Jamie possuía três heróis: o X-Men Wolverine, o hobbit Frodo e o bisavô, que conhecia como o autor de histórias de suspense publicadas em papel jornal, os chamados “pulp fiction”, dos anos 1930 e 1940.

Mas Lafayette Ronald Hubbard também criou a cientologia, um culto cujos fundamentos eram muito mais delirantes do que qualquer livro seu.

Vai por aí: o Universo, há 75 milhões de anos, era uma espécie de metrô da Sé na hora do rush. Xenu, o imperador galáctico, precisava acabar com a superlotação: aprisionou milhões de rebeldes na Terra e dizimou-os com bombas de hidrogênio.

Para a cientologia, os males que a humanidade sofre seriam resquícios da energia negativa remanescente desse genocídio.

Nos anos 1980, Ronald (1934-1991), o avô de Jamie cotado para suceder L. Ron, rebelou-se. Jogou o sobrenome Hubbard na lixeira e passou a se chamar DeWolf. E declarou que “99% de tudo o que meu pai já disse ou escreveu sobre ele mesmo é falso”.

Outra “ovelha negra da família”, nos anos 2000 foi a hora de Jamie assumir: rodou a internet um vídeo em que ele, durante um stand-up comedy, descasca o legado hubbardiano. Conta, no espetáculo, da primeira vez em que foi a um psiquiatra.

“Quando ele me perguntou se a doença mental corre na família, tudo o que eu pude dizer era ‘sim, sim’. Quando lhe disse que meu bisavô era o líder de uma seita que escravizou a mente de milhões, ele me acusou de ter delírios de grandeza.”

CELEBRIDADES

Adeptos hollywoodianos como Tom Cruise, Will Smith, John Travolta e Nancy Cartwright (dubladora de Bart Simpson) fizeram a fama da cientologia. A seita religiosa deitou na cama após seu fundador publicar o livro “Dianética – A Ciência Moderna da Saúde Mental” , em 1950.

O best-seller de autoajuda promete “cura completa” contra os “engramas”, cicatrizes de experiências ruins que ficariam no nosso subconsciente e nos impediriam de ser felizes. Virou a “Bíblia” da cientologia e a dor de cabeça de Ronald, o avô materno de Jamie.

Desde então, essa parte da família está sob vigília de uma estrutura similar à da CIA, acredita Jamie. A perseguição incluiria ameaças de morte, chantagens, acusações falsas (como crimes sexuais) e escutas telefônicas. “Eles vêm atrás de pessoas como agentes fanáticos da KGB.”

Asher Kennedy, 35, concorda que a coisa está mesmo russa para os herdeiros de Hubbard. Tirando a careca e as roupas largas estilo “mano do hip-hop”, o irmão caçula de Jamie parece clone do bisavô —as mesmas sobrancelhas avermelhadas e idênticas covinhas na bochecha rosa.

“Mataram o Philip Seymour Hoffman”, diz ele, de repente sério. “Overdose? Até parece.”

Está convencido de que a morte do ator, em fevereiro, não teve nada a ver com overdose de heroína, como consta na versão oficial. Após interpretar o líder de uma seita nos moldes da cientologia no filme “O Mestre” (2012), Hoffman foi assassinado, diz.

Após me oferecer maconha (a primeira das cinco propostas), Asher, que ajuda o irmão nos espetáculos, conta que a família chegou a entrar no programa de proteção a testemunhas para escapar da fúria dos “hubbardianos”.

“Eles vão vir atrás de você por esta matéria. Você sabe disso, né?”, diz antes de sair correndo e pular no palco como um homem-aranha, num só impulso.

Já Jamie gosta de preservar uma postura ambígua em relação ao sangue do seu sangue. Uma de suas 13 tatuagens, no braço direito, mostra dois triângulos entrelaçados por uma cobra, símbolo cientologista.

A marca na pele é um “lembrete”, diz. “Todos nós podemos ser deuses ou assassinos. O artista está no meio disso”.

]]>
0
Dentro do Templo de Salomão http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/23/dentro-do-templo-de-salomao/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/23/dentro-do-templo-de-salomao/#respond Sat, 23 Aug 2014 10:00:51 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=606 Continue lendo →]]> Por dentro do templo (foto UNIcom)

Por dentro do templo, que tem custo estimado de R$ 680 milhões (foto UNIcom)

Uma vez dentro do Templo de Salomão, ninguém dá um pio. “Passou da porta, zip”, um pastor instruía seu grupo de fiéis, simulando um zíper na boca. “Não preciso nem falar que celular é proibido. Mentaliza um SMS pra Deus que Ele responde na hora.”

Quase não há vazios entre as dez mil cadeiras da nova sede da Igreja Universal, na zona leste paulistana. Uma voz preenche o ambiente: você está na morada de Deus e deve ficar em silêncio.

Dois telões alternam imagens de florestas e riachos, com trilha sonora típica de meditação —sons de água e passarinho. Vem o versículo bíblico: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.

Até há quem tente, afirma o bispo Renato Cardoso ao começar o culto do dia. Ele usa o mesmo visual judaico adotado pelo seu sogro, o bispo Edir Macedo: quipá e talit (xale de oração) sobre o terno.

Cardoso cita um boato que se espalhou pela internet na véspera da inauguração, com a presidente Dilma, no dia 31 de julho.

Uma montagem mostrou a fachada pichada com uma passagem da Bíblia: “O Deus que fez o mundo […] não habita em templos feitos por mãos de homens”.

O picho nunca existiu. A Universal, ele diz, é dirigida por Deus, não por homens. “A Universal cresce e cresceu sem precisar se defender.”

O que precisam, diz Cardoso, é de ajuda. Ele propõe uma “oração ao dizimista” no começo da pregação. “Você tem contas, a Casa de Deus também tem.” Só a fatura da luz é R$ 120 mil, afirma.

Chamados de levitas, os auxiliares do bispo usam longas túnicas brancas, com faixa dourada na cintura. Nas mãos, sacolas de veludo vinho para recolher o dízimo —que seria pedido de novo ao fim do culto de duas horas.

CREDENCIAL

Fiéis ainda não podem entrar lá a pé, sem hora marcada. É preciso credencial. Em julho, a repórter passou o cartão de débito para comprar a sua por R$ 45, numa igreja em Santa Cecília, região central em São Paulo —segundo o departamento de comunicação da Universal, é o preço do ônibus executivo, com seguro, que leva a caravana.

em julho, a credencial para caravanas de São Paulo saía por R$ 45 (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

A credencial de São Paulo saía por R$ 45 (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

Só havia lugar para 14 de agosto, uma quinta-feira. No dia marcado, as credenciais são distribuídas numa bandeja de prata. Às 15h23, um ônibus com três homens e 21 mulheres (muitas com vestido de gala e brinco de brilhantes) sai rumo ao Brás.

O pastor passa instruções do tipo “agasalho de time não vai entrar”. Alerta: todos passarão por dois detectores de metais e terão bolsas revistadas na entrada. “Você não vai ter o direito de se importar.”
Mais vetos: celular, bala e caneta, inclusive a usada para marcar páginas da Bíblia.

“Ex-católica macumbeira”, Nice, 63, já foi ao templo uma vez. Achou chiclete embaixo de uma das dez mil cadeiras —que, num culto em 2013, Edir Macedo estimou valerem R$ 2.200 cada. “O povo não tem temor a Deus.”

No pátio, 103 bandeiras representam os países onde a Universal atua. Em destaque, uma do Brasil, uma de Israel e uma da igreja (a pomba branca dentro do coração).

Nas paredes, 12 menorás, o candelabro judaico cujo fogo “era mantido continuamente aceso pelos levitas do templo original”. Na réplica do Brás, a brasa vem de lâmpadas.

Nice ajeita seu pulôver rosa, endireita o coque grisalho e suspira. “É como entrar num pedaço do céu”.

NO COMPASSO DE SALOMÃO

Quase cem ônibus, vindos de vários lugares do país, param num estacionamento a dez minutos de caminhada da igreja. O trajeto é organizado, na ida e na volta, para não atrapalhar o trânsito.

O que não impede uma legião de ambulantes de abordar os fiéis na saída do culto. Sugeriam entrar “no compasso de Salomão”, com relógios de parede a R$ 20. O “churrasquinho do templo” (R$ 3) podia ser degustado “sem cair no pecado da carne”, prometia outro vendedor.

Casas ao redor improvisavam na garagem banquinhas de quitutes. No templo não há qualquer comércio.

Fiéis da Força Jovem Universal brincavam com a abundância de ofertas. Só falta a “camisinha de Salomão”, diz um rapaz de topetinho e gravata. Com ela, “você pode tentar botar pra baixo, mas vai se reerguer pela glória de Deus”.

Celular e máquina fotográfica são vetados, mas era possível levar um registro do “momento histórico” para casa. Auxiliares da igreja fotografavam quem quisesse na frente da fachada, revestida com parte dos 40 mil m² de pedras importadas de Israel.

O retrato pode ser baixado na internet, de graça.

Alguns fiéis levam debaixo do braço o jornal “Folha Universal”. Numa charge, a mão de Deus sai das nuvens e usa uma tesoura para cortar a fita vermelha do templo.

Rosa, 46, pegou oito horas de estrada para vir do Rio de Janeiro até o Brás. Voltaria no mesmo dia, com duas filhas, a sogra e um pingente dourado com o templo em miniatura, comprado por R$ 10 na porta.

“É Deus no céu e Edir Macedo na Terra”, diz.

]]>
0
As dúvidas existenciais de Henry Sobel http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/21/as-duvidas-existenciais-de-henry-sobel/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/21/as-duvidas-existenciais-de-henry-sobel/#respond Thu, 21 Aug 2014 11:00:35 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=585 Continue lendo →]]> Henry Sobel em seu apartamento de Higienópolis (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

Sobel em seu apartamento de Higienópolis (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

“Yesterdaaaaaay”, Henry Sobel, 70, canta a música dos Beatles sobre um passado em que os problemas pareciam tão distantes.

Sobre a cabeça do rabino, fora a famosa quipá vinho, há um móbile do artista norte-americano Alexander Calder. Pairam também algumas “dúvidas existenciais”.

“Estamos numa nova capítulo da vida”, diz o rabino americano do sow-ta-kee que não vai embora, mesmo após quatro décadas no Brasil. “Será que sou um sucesso ou um fracasso?”

É o que Sobel reflete ao longo de uma hora e meia e cinco bicadas no copo d’água, enquanto engole a seco passagens difíceis de sua trajetória e fala abertamente sobre direitos humanos na Israel bélica de hoje e no Brasil militar de ontem, maconha, gravatas, tênis, traição e Edir Macedo.

O rabino aparece de pijama quadriculado e meia na sala de seu apartamento na rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, um duplex com vasto jardim.

Ele se mudou para Miami há menos de um ano. Na prática, contudo, Henry Sobel mal saiu daqui. Celebra o casamento da filha única, Alisha, no dia 1º de novembro, e fica até o fim do ano para organizar a mudança “definitiva” –entre aspas porque ele já faz planos para o retorno.

Miami será uma temporada para “recarregar baterias humanas e espirituais” e jogar muito tênis, atividade que diz ter negligenciado em prol da carreira religiosa. “Tem que fazer exercício, porque realmente a barriga não dá.”

Enquanto estiver fora, as chaves do imóvel paulistano ficarão com “alguém de confiança”, afirma. “Vou deixar 60% das minhas coisas aqui para poder voltar.”

No ano passado, o rabino que celebrou os casamentos de Luciano Huck/Angélica e Marta Suplicy/Luis Favre anunciou com ares de grand finale: já deu. Hora de retornar aos Estados Unidos natal.

Em 31 de outubro de 2013, o Memorial da América Latina sediou uma homenagem ao americano pródigo que à casa tornaria após 43 anos vivendo em São Paulo. O ex-presidente Lula mandou uma carta para cortejar “esse amigo, que, mesmo fora, seguirá sendo um grande brasileiro em nossos corações”.

Pouco depois Sobel foi morar num apartamento em Williams Island, região nobre de Miami, com a mulher, Amanda. Ela é uma senhora enxuta que passa correndo por nós, um cometa que deixa como rastro as longas madeixas brancas e os passos apressados, encarapitados numa jovial calça jeans.

“Pretendo voltar daqui a dois, três anos para retomar os meus contatos”, ele conta. “Falo daqueles que acreditavam em mim. Por favor, perdoe a falta de modéstia, mas tenho muitos amigos, muita gente boa.”

Sobel vai para o quarto e, dez minutos depois, reaparece na sala. Agora, de camisa social, calça e uma gravata torta para a direita, de estampa marrom com listras diagonais brancas. Leia abaixo trechos da conversa.

GRAVATAS

O furto de quatro gravatas de grife (Louis Vuitton, Armani, Giorgio’s e Gucci) na Flórida, em 2007, foi o “ponto de partida” para esta nova fase da vida, “de autoavaliação”.

Na ocasião, atribuiu o delito a uma confusão mental provocada por uso de medicamentos. Pagou uma fiança de US$ 3.680 após passar uma noite preso.

“Foi uma falha moral minha”, reconhece hoje. “Por que eu fiz aquilo? Como se justifica? Ainda não achei a resposta, mas certamente vou trazer uma de volta de Miami.”

MACONHA

Fã de James Brown e de Beatles, o rabino conta que, em Woodstock, fumou, tragou e gostou de maconha. Era 1969, e ofereceram-lhe a erva em dois workshops do festival.

Foi a única droga que usou, diz. “Fiquei perto da minha base. Em nenhum momento perdi a noção sobre mim mesmo.”

Desde que “não prejudique terceiros”, ele acha válido conhecer outros tipos de droga. “Cada um tem o direito e o dever de experimentar e chegar à conclusão se é bom ou ruim.”

TEMPLO DE SALOMÃO

Recebeu o convite para o Templo de Salomão do Brás. A Igreja Universal juntou da presidente Dilma ao rabino Michel Schlesinger, sucessor de Sobel na presidência da Congregação Israelita Paulista, para a inauguração do endereço –uma réplica da construção sagrada para os judeus e destruída duas vezes em Jerusalém, a última 1944 anos atrás.

Sobel não foi. E, apesar de considerar o bispo Edir Macedo “uma boa pessoa, muito bem intencionada”, critica seu novo visual.

“Ele se vestiu de quipá e talit, que é nosso xale de oração. Ele se vestiu como um religioso da religião judaica. Acredito que esses símbolos não devem ser imitados. Não se usa símbolos alheios que só podem confundir terceiros”, diz.

“Quero ser bem claro: há tanta coisa boa dentro da religião dele que não precisa recorrer a símbolos judaicos. Judaico é para judeu.”

ISRAEL VS. PALESTINA

O atual conflito entre Israel e Palestina, ele ressalta, infelizmente não é o primeiro e dificilmente será o último. Não vê boa vontade nem no primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nem no Hamas. Tampouco acha que há “interlocutores capacitados para negociar a paz no Oriente Médio”.

Para o rabino, “todo mundo tem direito e dever de se proteger”. Mas é taxativo ao defender que “dois povos merecem dois Estados”, e que “nenhum povo é melhor nem pior do que o outro”.

VLADIMIR HERZOG

Em 1975,Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura e filiado ao Partido Comunista Brasileiro, morreu nas dependências do DOI-Codi em São Paulo. Os militares cravaram em seu atestado de óbito: suicídio.

Herzog era judeu, e mandava a tradição que ele, um suposto suicida, fosse enterrado com “desonras”, em área marginal do cemitério israelita do Butantã.

Sobel não comprou a versão oficial.

Ao preparar seu corpo para o funeral, um funcionário da Congregação Israelita Paulista viu marcas de tortura. Sobel era um jovem rabino, que substituía o primeiro na hierarquia da CIP, então fora do país. Peitou a ditadura e avisou que Herzog teria um enterro “normal”. Era o mesmo que dizer em alto e bom som: Herzog não se matou. “Queria torná-lo inocente de um assassinato institucionalizado.”

Dias depois, o rabino participou de uma histórica celebração ecumênica na praça da Sé, em memória a Herzog, organizada por Dom Paulo Evaristo Arns (“um gigante que me ensinou o significado de liderança espiritual”).

“Senti medo em todos os momentos”, diz. Conta que três militares vieram no escritório da CIP. “Rabino, o lugar do senhor é na sinagoga. E deixe o cardeal rezar na igreja dele”, relembra o diálogo dos “visitantes”.

“Era o Coronel Marques, me lembro dele, vejo na minha frente. Respondi: ‘Então vamos fazer um acordo. Eu fico na sinagoga amanhã, e o senhor não tome decisões sobre onde estacionar seus tanques na vizinhança da catedral.”

PAI DA NOIVA

Os preparativos para o casamento da filha única, Alisha, estão sendo “uma adrenalina fora de série”.

A cerimônia para mil pessoas no clube Hebraica, nos Jardins, acontecerá uma semana após o segundo turno das eleições, com o “amigo de verdade” Geraldo Alckmin e dom Cláudio Hummes entre os convidados. “Vamos dançar muito.”

“Não chamei Dilma”, diz enquanto ajeita a quipá na cabeça e as ideias na ponta da língua. “Não seria natural convidar só por ser presidente.”

TÊNIS

Ele quer jogar mais tênis –e vê na atividade um paralelo com esta nova fase da vida.

“Quando ganho o primeiro set, jogo o segundo. E depois o terceiro. Mas, se começo a perder, dificilmente consigo chegar até o segundo set.”

Henry Sobel percebe aí “a moral da história”.

“Já venci na vida algumas vitórias e sofri algumas perdas. Sempre tive a energia de continuar. Mas, enquanto eu ganho, enquanto estou feliz na vida, sei ajudar as pessoas e realizar a minha vocação.”

]]>
0