Religiosamenteevangélica – Religiosamente http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br Bastidores e curiosidades do mundo religioso Tue, 03 Feb 2015 21:35:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Pergunte à Raíssa http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/02/03/pergunte-a-raissa/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/02/03/pergunte-a-raissa/#respond Tue, 03 Feb 2015 21:34:11 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=677 Continue lendo →]]> Intolerância

Aí em cima você vê uma reportagem da “TV Folha” sobre intolerância religiosa. Isso existe no Brasil?

Pergunte à Raíssa.

Na escola, o coleguinha “valentão” dizia ter “nojinho” dela. “Ele ficava me xingando de macumbeira. Todo mundo ficava com nojo de mim.”

Pouco adiantava reclamar à diretora da escola: segundo seus pais, Alexandre Espanha, 40, e Vanessa Cordor, 37, ela era evangélica e não dava muita bola para o bullying contra a filha de oito anos.

De tanto ver os adultos dançaram para os orixás, Raíssa pediu aos pais para virar mãe de santo. Durante as férias escolares, começou sua iniciação no candomblé.

Chamado de “preceito”, o ritual é secreto e envolve 21 dias de “isolamento e resguardo”. Ela perdeu parte do cabelo e ficou várias horas trancada num quarto pequeno, com ícones de sua religião.

Raíssa confessa que ficou “um pouco irritada” com o tédio daquilo tudo, mas tudo bem, sabia que era para o bem maior.

Um vizinho da família discordava. Muito estranho, aquela menina toda de branco presa em casa… Não era de Deus. Ligou para a polícia e fez uma denúncia anônima de cárcere privado.

Quando o PM bateu na porta, Alexandre Espanha, pai de Raíssa e também de santo, perdeu as estribeiras. “Ele invadiu. Matei na hora que era evangélico.”

A ideia de que há uma “guerra religiosa” entre evangélicos e adeptos de religiões afrobrasileiras não é nova. No dia 29 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, bati um papo com um pastor e um babalorixá sobre o conflito. As faíscas foram tantas que um internauta sugeriu “pegar a pipoca” para acompanhar a transmissão ao vivo.

NÓ EM COBRA

Vamos por partes: nem todo pai de santo é santo, nem todo evangélico é intolerante.

O secretário municipal da Promoção à Igualdade Racial, Antonio Pinto, por exemplo, é “crente”. Fiel da igreja Batista, é também o primeiro a criticar quando agentes da própria Prefeitura de São Paulo fecham terreiros de umbanda ou candomblé.

Também lembra que padres e pastores são bem-vindos para acudir pacientes terminais em hospitais públicos ou privados. Um babalorixá, contudo, muitas vezes não passa da porta de entrada. O mesmo vale para ritos em cemitérios.

Muitos evangélicos, contudo, pensam diferente. O “chuta que é macumba” parece mais forte entre os neopentecostais –linha que inclui igrejas como a Universal e a Mundial do Poder de Deus.

É aí que desafina o Brasil “miscigenado, ecumênico e religiosamente sincretizado” que Martinho da Vila cantou. Cerca de 575 mil pessoas declararam pertencer à umbanda ou ao candomblé no censo de 2010, contra 42 milhões de evangélicos.

Líderes como o pastor Joaquim de Andrade, da Igreja Batista Ágape, são taxativos: ninguém pode partir para a agressão, como sair quebrando tudo em terreiros, mas tentar cooptar “pecadores” para a “verdade cristã” é válido, sim.

Ele já foi multado em R$ 1.000 pela Justiça por se vestir de branco (“como eles”) e distribuir panfletos evangélicos durante rituais de umbanda, em festa para Iemanjá, na Praia Grande (“um lugar público”), litoral de São Paulo.

O pastor Joaquim diz que, ao contrário de outros credos, o cristianismo é “fundamentado”, vide a Bíblia (versus a tradição oral da umbanda e do candomblé).

“Por exemplo, quando o espírito de Maria Padilha se manifesta da vida de uma pessoa. Se é homem, vai para o homossexualismo. Se é mulher, vai para a prostituição, o adultério, a pedofilia, esses absurdos.”

Para o professor da USP Reginaldo Prandi, as religiões evangélicas não toleram a ideia de múltiplos deuses. Já credos afrobrasileiros, em vez de ejetar, incorporam deuses de outras culturas. Mais ou menos como Roma fez ao incorporar o Olimpo grego ao seu rol divino.

A mãe de santo Juju de Oxum, 79, acha que o “abuso dos crentes está demais”, mas não gosta de falar no lado mais fraco da corda.

“Nós somos fortes. A gente não cai, não. Sei dar nó em cobra. Sei sorrir, sei cantar e sei chorar ao mesmo tempo.”

Mãe Juju de Oxum: 'O abuso dos crentes está demais' (Gabriel CabralFolhapress)

A mãe de santo Juju de Oxum (Gabriel CabralFolhapress)

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Dá pra tolerar? http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/01/21/da-pra-tolerar/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2015/01/21/da-pra-tolerar/#respond Wed, 21 Jan 2015 22:49:02 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=670 Continue lendo →]]> Até que ponto meu direito religioso termina quando começa o do outro?

Se um pastor se vestir de branco e, “disfarçado”, pregar o evangelho numa praia –lugar público– durante um culto a Iemanjá, ele estará nadando contra a maré da tolerância religiosa?

Quem joga a primeira pedra: o fiel que invade terreiros ou o pastor de sua igreja que chamou Oxum de boba, feia e chata?

Minha religião diz que a sua é pecado. Como bom cristão, não é meu dever tentar convertê-lo?

Pode chamar de macumbeiro? E de crente? Palavras ferem mais do que pedras?

Não tenho a resposta pra nada disso aí em cima, não. Mas conversei uma hora com o babalorixá Rodney William, doutorando em antropologia na PUC-SP, e o pastor Sezar Cavalcante, reitor da Faculdade Teológica Betesda, em Campinas (SP), para tentar por que tanta gente fala em “guerra religiosa” ao opor evangélicos e adeptos de religiões afrobrasileiras.

O debate foi ao ar nesta quarta (21), ao vivo, na “TV Folha”. Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa, aliás.

Nas redes sociais, leitores reagiram ao bate-boca dos convidados.

Francisco comemorou: “Tem um pastor e um pai de santo debatendo a intolerância religiosa na#tvfolha, vou pegar a pipoca”.

“Começaram a ser intolerante entre eles mesmo, vai entender!”, comentou Cristiano.

Entendamos, pois. Sal a gosto.

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'Dilma Rousselfie' vai à Assembleia http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/08/dilma-rousselfie-na-assembleia-de-deus/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/08/dilma-rousselfie-na-assembleia-de-deus/#respond Fri, 08 Aug 2014 23:51:44 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=552 Continue lendo →]]> Entre 5.000 “assembleianas de Deus”, a “presidenta” ativou o método “Dilma Roussefie”, sorriu para tablets, soltou alguns “graças a Deus” e citou o salmo de Davi: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”.

Na semana anterior, Dilma Rousseff esteve a poucos metros dali, sentada ao lado do bispo Edir Macedo na inauguração do Templo de Salomão.

Nesta sexta (8), a candidato do PT à reeleição foi à Assembleia de Deus de Madureira (segunda maior ala da igreja, atrás apenas do ministério de Belém), no Brás, em São Paulo. Atrás dos votos evangélicos que fugiram dela em 2010, na boca do primeiro turno, Dilma participou do Congresso Nacional de Mulheres, o maior movimento feminino dentro das Assembleias.

O bispo Manoel Ferreira, líder da Assembleia de Deus de Madureira, e a presidente Dilma (Juca Varella/Folhapress)

O bispo Manoel Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira, e a presidente Dilma (Juca Varella/Folhapress)

O afago a evangélicos ricocheteou no meio evangélico.

O “Gospel Prime”, um dos maiores portais evangélicos do país, publicou um texto afirmando que Dilma tem sido “duramente criticada” por “aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo” e “abrir precedentes para o aborto legal no país”.

artigo põe em xeque até o blusão azul-celeste da presidente. “Dilma Rousseff estava vestida de azul, ao contrário do vermelho tradicional, que muitos evangélicos consideram símbolo do comunismo.”

O pastor Silas Malafaia, que em 2010 apareceu na propaganda de TV do então presidenciável José Serra (PSDB), usou o Twitter para criticar a visita. “O PT procura os evangélicos de 4 em 4 anos, o restante do tempo, luta contra os valores e princípios que nós defendemos. Não vamos cair nessa”, disse o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, um dos vários braços da denominação.

Malafaia chegou a ser citado no congresso das assembleianas. “Aprendi com Silas que tudo na vida do cristão é ‘Jesusincidência’”, disse a pastora Marvi minutos antes de Dilma entrar no palco. “Aqui não tem ninguém salvo ainda, não, pode abaixar a bola.”

MULHERES GUERREIRAS

A presidente entrou às 11h12 jogando para o público: aplaudiu as pastoras e ouviu atenta ao hino hospel “Mulheres Guerreiras” (“a mulher sábia edificará/a mulher virtuosa quem achará”). O refrão guardava certa semelhança com a melodia de “Fricote”, do Art Popular (“eu vou te lambuzar/ de água de coco”).

A audiência sacudia lenços coloridas para a petista, que batia palmas e tentava acompanhar algumas estrofes.

A moda das assembleianas de Deus (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

A moda das assembleianas de Deus (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

Falando como “servo de Deus, e não líder do PMDB”, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele próprio da Assembleia de Deus, foi responsável pela acupuntura eleitoral.

A primeira alfinetada: defendeu que pastores tenham a liberdade de pregar contra a homossexualidade é pecado, num ataque ao projeto de lei que criminaliza a homofobia.

Disse em seguida que a “vida começa na concepção”. O Planalto, ele continuou, revogou uma portaria que “legalizava indiretamente” o aborto no SUS “menos de 24 horas depois” de sentir a pressão da bancada religiosa, “graças a Deus”.

Também afirmou que sua igreja “não depende de dinheiro do governo”, e sim com “dízimos e ofertas”.

A presidente discursou sobre o papel da mulher em programas sociais como o Bolsa Família e terminou com uma solicitação: “Quando vocês voltarem para seus Estados e municípios, não se esqueçam de orar por mim”.

O pedido da presidente é uma ordem para Regiane Magalhães, 33, uma das dez acrianas que pagaram R$ 2.000 por passagem e um hotel na Consolação, região central de São Paulo, para vir ao evento.

Regiane foi contemplada pelo Minha Casa, Minha Vida: um imóvel de dois quartos “e um banheiro bem grande” em Rio Branco, capital do seu Estado. Em junho, o governo entregou 509 casas na Cidade do Povo, região da dona de casa. “A gente mora lá agora. Em breve, vamos morar na Cidade de Deus.”

Nos céus estava sua amiga, a médica infectologista Cirlei Lobato, 50. Em seu iPad com capa verde-limão, ela mostrava uma “selfie” com a presidente.

Tanto faz se Dilma é evangélica ou não, ela dizia. “Quem permite que alguém chegue à Presidência é Deus. E Deus ama a todos.”

A médica Cirlei Lobato e sua selfie presidencial (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

A médica Cirlei e sua selfie presidencial (Anna Virginia Balloussier/Folhapress)

A pastora Keila, nora do bispo Manoel Ferreira, presidente da Assembleia de Madureira, disse que sentiu a presidente “entusiasmada” e “um pouco impressionada” com as “irmãs”.

Na eleição de 2010, o Ministério de Madureira apoiou a candidata do PT. Neste ano, fechou oficialmente com o Pastor Everaldo (PSC), membro da igreja. Talvez no segundo turno [declarar voto em Dilma] seja uma possibilidade maior.”

Manoel Ferreira sentou-se ao lado de Dilma e parafraseou o “nunca antes” de Lula após a fala da petista. “Eu nunca ouvi antes na história deste país um presidente reconhecer os trabalhos da Assembleia de Deus”.

“Me senti gente”, emendou o filho Samuel.

Por telefone, Everaldo, o pastor presidenciável, minimizou a deferência à presidente. “Sempre fomos instruídos a honrar a autoridade.”

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Os pastores vão às urnas http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/04/os-pastores-vao-as-urnas/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/08/04/os-pastores-vao-as-urnas/#respond Mon, 04 Aug 2014 17:57:09 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=501 Continue lendo →]]> Pastor Everaldo, candidato à Presidência pelo PSC (Gabriel Cabral/Folhapress)

Pastor Everaldo Dias Pereira, candidato à Presidência pelo PSC (Gabriel Cabral/Folhapress)

Nestas eleições, ao menos 274 candidatos vão pôr fé nos santinhos políticos.

É esse o total de postulantes que assinaram “pastor”, “pastora”, “bispo”, “bispa” ou “apóstolo” no nome de urna. Eles concorrem a uma cadeira em 26 governos estaduais e um distrital, 26 Assembleias Legislativas, Câmara Distrital de Brasília, Câmara dos Deputados, Senado e Presidência da República.

Pastor Everaldo, presidenciável do Partido Social Cristão (PSC), encabeça a lista. O líder evangélico da Assembleia de Deus diz “acreditar em milagres” para chegar ao Planalto. Pegou 3% das intenções de voto e o quarto lugar na última pesquisa Datafolha.

O levantamento foi feito no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e exclui casos em que Bispo era o sobrenome da pessoa, e não um cargo religioso.

A exceção é José Bispo De Souza Filho, que aliou o sobrenome litúrgico ao título na igreja: nas urnas ele é o Pastor Bispo, candidato de Pirapozinho (SC) a deputado federal.

Pastor Napoleão Bonaparte, seu colega no Partido Trabalhista Nacional (PTN) catarinense, também tenta uma vaga na Câmara.

Em Goiás, outro personagem histórico: pastora Joana D’Arc, do Partido Social Democrata Cristã (PSDC). Candidata ao Legislativo do Estado, ela declara na ficha eleitoral do TSE ser “sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa”.

O SENHOR É O MEU PASTOR

São Paulo, maior colégio eleitoral, é também o Estado com maior concentração de candidatos: 40 aspirantes a deputado estadual ou federal.

Só à Assembleia Legislativa concorrem 26 pastores, como o Maurão Bom Pastor, do Partido Republicano Progressista (PRP), que deseja em seu perfil no Facebook que “ESTEJAM TODOS NA PAZ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”.

Entre os que pretendem morar em Brasília está o pastor Marco Feliciano, que tenta a reeleição pelo Partido Social Cristão (PSC).

Pelo menos na assinatura eleitoral, evangélicos estão em baixa no Nordeste. 

Piauí e Sergipe são os Estados com menos candidatos religiosos na urna: dois cada. Os pastores piauienses Robson (PEN) e Gessivaldo (PRB) querem ser deputado estadual, e os sergipanos pastor Jony (PRB) e pastora Graça (PEN) gostariam de se eleger à Câmara.

Para efeito de comparação: apenas seis pastores e nenhum bispo ou apóstolo concorrem na Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país, com cerca de 10 milhões de eleitores.

A conta gospel-eleitoral pode estar subestimada. Muitos candidatos não incluem o cargo religioso no nome de urna. Caso do candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo Partido Republicano Brasileiro.

O sobrinho de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, empata em primeiro lugar com outro evangélico, Garotinho, na corrida fluminense: cada um tem 24% das intenções de voto, de acordo com o Datafolha.

No nome de urna, o bispo licenciado da Universal é apenas Marcelo Crivella.

Há ainda os que não se apresentam como líderes, mas apostam no filão evangélico. Ewerson Alves da Silva, candidato a deputado estadual do Paraná pelo PSC, se apresenta como Clark Crente aos eleitores. “Meu compromisso é preservar a continuidade da família e a esperança da sociedade”, diz.

clark

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Pelas barbas do bispo http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/07/25/pelas-barbas-do-bispo/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/07/25/pelas-barbas-do-bispo/#respond Fri, 25 Jul 2014 15:50:48 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=505 Continue lendo →]]> Para “seculares”, como evangélicos chamam quem tem outra ou nenhuma fé, o Templo de Salomão sempre foi uma caixinha de surpresas. Ou melhor, uma caixona para 10 mil fiéis, com 52 metros de altura (equivalente a um prédio de 18 andares), 105 de largura (duas vezes a Catedral da Sé) e 121 de comprimento (maior que o Maracanã).

Em junho, a mídia “secular” foi avisada de que não poderia fotografar ou filmar, nem agora nem nunca, o interior da nova obra da Igreja Universal do Reino de Deus.

Obreiros se enfileiram na chuva enquanto esperam para entrar no templo (Carlos Cecconello/Folhapress)

Obreiros tomam chuva enquanto esperam para entrar no templo (Carlos Cecconello/Folhapress)

Por meses a fio, acompanhei as obras do Templo de Salomão. Qualquer um podia: elas eram transmitidas em tempo real, 24 horas por dia, pela internet.

Mas só a fachada. Saber o que se passa lá dentro, onde as lentes não chegam, são outros quinhentos.

Mesmo após a abertura, quem sacar uma câmera –tanto faz se profissional ou “vale-selfie” de celular– estará “desviando do objetivo único da visita, de contemplar, meditar, orar a Deus e ouvir Sua Palavra, e ainda distraindo outros visitantes”, segundo o departamento de comunicação da Universal.

Ver com os próprios olhos também não é para todos, já que a entrada é controlada e, até segunda ordem, barrada à imprensa.

Nesta quinta (24), a igreja convocou alguns veículos de comunicação para falar sobre o projeto iniciado em 2010. Éramos cerca de 15 jornalistas, contando dois colegas de fora (da espanhola Efe e da inglesa Reuters).

Para responder nossas perguntas, dois assessores de imprensa, o pastor Miguel Lacerda, que falaria sobre a parte “espiritual”, e o arquiteto “secular” Rogério Silva de Araújo, há 16 anos cuidando de construções da igreja –antes, projetou uma fábrica da Volkswagen em Resende (RJ) e outra da Brahma na capital fluminense.

Por onde começar?

Na próxima quinta (31), acontece a inauguração oficial da réplica “made in Brás” que a Universal fez para a construção bíblica destruída duas vezes em Jerusalém, a última 1944 anos atrás.

Espera-se uma longa fila de autoridades no dia (a Universal não divulgou quem). A presidente Dilma Rousseff já confirmou presença.

O templo, que tem isenção de IPTU (o que é de praxe para qualquer igreja do país), vai restringir o acesso a convidados. A imprensa assistirá a tudo por um telão do lado de fora, numa espécie de “curral”.

Imagens internas, portanto, só as fornecidas pela Record, emissora que o bispo Macedo comanda desde 1989. Uma questão de organização, diz a Universal, ou flashes ricocheteando pelo recinto podem ficar ao Deus dará.

Jornalistas não poderão circular também pela parte externa no espaço, onde a Universal montou o Tabernáculo (simulação da tenda que judeus liderados por Moisés usavam como centro de oração) e fincou 12 oliveiras trazidas do Uruguai. Comuns em Israel, essas árvores dão azeitona, que gera azeite, mencionado na Bíblia como sinal do Espírito Santo.

Não misture água e azeite: fiéis poderão, sim, conhecer o templo. Só não quando bem entenderem, ao menos por ora.

Por tempo indeterminado (na coletiva falou-se em “semanas”, alguns pastores dizem 2015), entrar lá exigirá credencial. E só consegue uma quem embarcar nas caravanas da Universal, pagando por ônibus de turismo contratados pela igreja. Para agosto, está difícil descolar passagem. Quase tudo esgotado. Sair do centro de São Paulo custa R$ 45.

Escrevi sobre essas regras de acesso, bem como a implantação de detectores de metais nas portas e o veto a tablets, celulares, camisas de time, decotes e bonés, na semana passada.

A BARBA DO BISPO

A inauguração está sendo feita em parcelas –se você passar pela avenida Celso Garcia qualquer dia à tarde, verá centenas de obreiros (nome para os ajudantes do pastor) esperando a hora dos portões abrirem, com o uniforme azul-marinho da Universal.

Alguns ambulantes também cercam o aspirante a novo cartão-postal religioso de São Paulo, que não terá nenhum tipo de comércio, nem para venda de comida, de acordo com a assessoria. Fiel da Universal, João vendia camisas em inglês dando “welcome” ao “extraordinary” e prometia versões do tipo “Templo de Salomão: eu fui!” em “italiano, espanhol, francês e angolano”. Ontem, acabou perdendo boa parte do material para uma batida policial, o “rapa”.  

Um barbado Edir Macedo, com quipá na cabeça, abriu o primeiro dia de pregação no sábado passado, 19 de julho, com deferências a Deus, “o todo-poderoso de Israel”.

Edir Macedo discursa na abertura do templo para bispos e pastores (reprodução)

Edir Macedo discursa na abertura do templo para bispos e pastores (reprodução)

No dia 14 de janeiro, estreou o novo visual no Instagram, em foto na qual sua mulher, Ester, cortava suas unhas com um alicate.

Em vídeo gravado em 2013 e publicado em abril no YouTube, Macedo anuncia o compromisso de não aparar os pelos faciais.

“Não vou fazer mais a barba, até a inauguração. Alguns bispos também estão fazendo isso. Você vai ver a cara da gente estranha.”

Durante a mesma pregação, ele pede “uma oferta especial extra” dos fiéis para o templo, então 55% concluída. E lista os custos.

Iluminação, R$ 22 milhões. R$ 2.200 por cada uma das 10 mil cadeiras. Pelas pedras israelenses usadas no Brás, 30 milhões. “Nós estamos fazendo tudo do melhor.”

SEM DILMA

O bispo diz que o templo não pode ser feito “por pessoas que nada tem com a nossa fé”. Por isso, não quer patrocínio de qualquer governo, municipal, estadual ou federal.

Não vou pedir ajuda a Dilma. Não vou pedir. Se eu chegar lá, Dilma, eu sei que o Banco do Brasil tem verba para esse tipo de coisa. Mas a gente tem que botar lá na porta: Banco do Brasil. Eu não quero isso.”

A contribuição abrirá caminhos, diz o bispo. “Deus vai abençoar sua vida economicamente. Nós estamos com esse propósito. Vocês têm que ser ricos, prósperos.”

Na reunião desta quinta, os assessores da Universal estimaram o custo do templo em R$ 680 milhões, 100% bancado com doações.

QUERO SER GRANDE

O quarteto que conversou com a imprensa desmentiu boatos (como o de que Edir Macedo teria mandado construir um túmulo para ele no local) e divulgou números grandiosos.

São, no total, 100 mil m² de área construída, o equivalente a dois parques Trianon.

E haja saco de cimento –mais precisamente 145 mil. Calcula-se 2.600 toneladas de ferro gastas na réplica.

Com “tecnologia alemã produzida na Itália e desenvolvida em Portugal”, a iluminação da fachada reproduz a “cor amarelada do entardecer” em Jerusalém.

Eles importaram 40 mil m² de pedras de Hebron, cidade de Israel, que seriam do mesmo tipo encontrado no Muro das Lamentações –o último vestígio do segundo templo de Jerusalém. Foi lá que Jesus derrubou a mesa de cambistas e vociferou contra quem fazia da “casa de oração” um “covil de salteadores”, segundo a narrativa bíblica.

A versão paulistana não terá nenhum dos símbolos clássicos da Universal, como o letreiro “Jesus Cristo é o Senhor”. As portas estarão abertas para qualquer um: evangélico, católico, espírita, muçulmano etc.

Uma exceção: no pátio, uma bandeira com o símbolo da igreja, uma pomba branca dentro de um coração vermelho. A mensagem, segundo o pastor Miguel, é: “Aberto a todos, mas construído pela Igreja Universal”.

Ao lado, flâmulas do Brasil e de Israel. Mais atrás, uma bandeira para cada um dos países em que a Universal atua hoje (“mais de cem”).

A suntuosidade do Templo de Salomão, afirma o pastor Miguel, tem um objetivo: fazer com o que o visitante saia de lá inspirado. E pense com a Universal: “Poxa, é grande. Quero que minha vida seja assim”.

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As regras do Templo de Salomão http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/07/16/as-regras-do-templo-de-salomao/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/07/16/as-regras-do-templo-de-salomao/#respond Wed, 16 Jul 2014 16:38:08 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=491 Continue lendo →]]> O templo visto de cima (Antonio Miotto/Fotoarena/Folhapress)

De Jerusalém ao Brás: a “xerox” do Templo de Salomão (Antonio Miotto/Fotoarena/Folhapress)

A Igreja Universal do Reino de Deus divulgou um manual de etiqueta para quem quiser conhecer o Templo de Salomão, “o lugar que Deus escolheu para habitar”.

Entrar lá exige “dresscode”.

Nada de boné, camisa sem manga ou de time, roupa com mensagem política ou comercial, chinelo, bermuda, decote, minissaia e óculos escuros.

“Se você fosse se encontrar com o próprio Deus, na casa dele, como se vestiria?”, pergunta o bispo Renato Cardoso ao som de música clássica, em vídeo divulgado na terça (15) no blog de Edir Macedo, líder da Universal. “Vista-se como se fosse se encontrar socialmente com uma pessoa muito importante.”

Macedo designou Cardoso, seu genro, para ditar as regras de acesso à obra, que replica o templo bíblico destruído duas vezes em Jerusalém. Caberão até 10 mil pessoas na versão erguida no Brás, em São Paulo.

Entrar lá não é para qualquer um.

Após inaugurado, o templo se fechará por um tempo a visitantes sem credencial —segundo pastores, até 2015.

Antes disso, ou você é convidado ou participa de uma caravana organizada pela Universal. Há ingressos à venda nas igrejas —sair de ônibus do centro custa R$ 45. O lote de agosto está quase esgotado.

O valor, de acordo com a igreja, “refere-se exclusivamente ao transporte em ônibus executivo de turismo, com seguro, cobrado pela empresa contratada. A chegada dos visitantes em número limitado de caravanas atende recomendação da Companhia de Engenharia de Tráfego e será exigida apenas nos primeiros 30 dias de visitação”.

Segundo a companhia, “não é uma recomendação. A CET estabeleceu em certidão que o empreendimento deve prover o local com vagas de estacionamento de fretados por meio de convênio com estacionamento”.

Entrar lá tem preço. Mas nenhuma “selfie” para contar a história.

O bispo Cardoso afirma que, por ser sagrado, o santuário não pode ser filmado nem fotografado. Todos estarão sujeitos a revista, feita por uma guarda privada e com detectores de metal. Será barrado no baile quem levar smartphones, tablets etc.

Nenhum Instagram será ferido durante a realização deste culto: haverá fotógrafos à disposição para clicar fiéis do lado de fora. O retrato poderá ser baixado na internet.

A presidente Dilma está entre os convidados para uma cerimônia de abertura em 31 de julho. Autoridades, segundo a Universal, também foram orientadas a não levar celular.

A estreia do templo será no sábado (19), para líderes religiosos. Seguidores poderão assistir à reunião por videoconferência, exibida em várias Universais.

Na mesma data, chega ao fim o “Jejum de Jesus”, iniciado a dois dias da Copa. A igreja propôs que fiéis abstraíssem por 40 dias de “rádio, televisão, distrações”.

Em junho, o blog de Macedo reproduziu texto que dizia: “Na Copa, ganham os jogadores. No Jejum, ganha VOCÊ. Para assistir à Copa tem que pagar. O Jejum é GRÁTIS”.

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Travestis e religião na Bienal da Arte http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/06/19/travestis-e-religiao-na-bienal-da-arte/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/06/19/travestis-e-religiao-na-bienal-da-arte/#respond Thu, 19 Jun 2014 15:39:31 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=465 Continue lendo →]]>

Márcia Pantera, 44, frequenta cultos evangélicos, missas católicas e terreiros de macumba. “Quando vou em qualquer igreja, vou procurar Deus.”

Carlos Márcio, 44, casado com Kennedy há 13 anos, não acredita “nesta coisa de ex-gay”. Não que não ponha fé na vida: foi batizado e crismado na Igreja Católica, “toda aquela palhaçada de quando a gente coloca a roupinha de menininho branco”.

A linha que separa Márcia e Márcio é tênue como um bom delineador.

Márcia Pantera com figurino inspirado no líder religioso de 'Inferno' (Gabriel Cabral/Projetor)

Márcia Pantera com figurino inspirado no líder religioso de ‘Inferno’ (Gabriel Cabral/Projetor)

À noite, ela dá um tapa na Márcia Pantera, seu nome artístico: pinta os olhos com contorno bem escuro, ajeita a peruca loira estilo “Beyoncé com ventilador na cara”, sobe no salto alto até pular de 1,85 m para 2 m e canta Madonna em seus espetáculos. Comemorou 26 anos de carreira na quarta-feira (18), na boate LGBT Blue Space, no centro de São Paulo.

Durante o dia, ele divide uma casa em Brasilândia com tio, prima, irmão e marido. Dirige sua scooter branca Cyticom 300i cinco dias por semana para chegar em Santana, zona norte da cidade, onde trabalha como vendedor numa loja de sapatos, bolsas e acessórios.

Os dois viraram um só no final dos anos 1980. Márcio era o jogador de vôlei com corpão de atleta que, após ver o show de uma travesti com cabelão até a cintura, começou ele também a se cobrir de brilhantes e lantejoula.

Nasceu aí o alterego Márcia Pantera, uma das drag queens mais famosas da noite paulistana, musa do estilista Alexandre Herchcovitch –que conheceu na porta da Nostro Mondo, lendária boate na rua da Consolação onde Adriane Galisteu já foi confundida com uma drag queen.

“Por trás da drag, existe o Márcio, que é religioso, ou o que seja”, diz.

Religiosos ou o que sejam, Márcio e seu alterego foram convidados para viver o papel principal no filme “Inferno”, da artista israelense Yael Bartana.

Com maquiagem da Pantera, ele encarna um líder religioso com ares e vestes papais, num simulacro do templo bíblico de Salomão que a Igreja Universal do Reino de Deus constrói no Brás, em São Paulo (o original foi destruído duas vezes em Jerusalém, antes de Cristo nascer, e nunca mais reerguido).

A obra promete polêmica: simula a completa destruição do templo de 74 mil m² que virou xodó do bispo Edir Macedo. O líder da Universal chegou a prometer não cortar a barba até a abertura da construção salomônica, marcada para 31 de julho, com presença da presidente Dilma.

“Inferno” será exibido na Bienal de Arte de São Paulo, que começa em setembro, na semana seguinte à inauguração da nova igreja.

Em 2014, a mostra levanta a bandeira “TTT”: “transgressão”, “transcendência” e “transsexualidade”. A curadoria selecionou artistas que trabalhem tanto com a diversidade sexual quanto com a profusão de crenças religiosas na atualidade.

“Isso é algo que resume nossa condição contemporânea”, disse o britânico Charles Esche, curador da Bienal, em entrevista à “Ilustrada”. “A arte nos mostra que essa absoluta dicotomia entre masculino e feminino não reflete a forma como nós, de fato, experimentamos a realidade”.

E, nesse sentido, o filme de Yael Bartana cai como uma das luvas que Márcia Pantera certamente usaria em seus espetáculos, de preferência com veludo. Para a drag protagonista, ao demolir de mentirinha o templo religioso, a artista israelense simbolizou a derrubada de preconceitos na vida real.

“Acho que o preconceito da igreja evangélica é demais da conta. Se eu morrer e nascer de novo, quero vir exatamente como eu sou. Gay que seja. Sou feliz assim”, diz Márcia.

O PASTOR E A TRAVESTI

A obra da brasileira Virginia de Medeiros é outro retrato dessa tensão entre religião e identidade sexual.

No filme “Sérgio e Simone”, também escalado para a Bienal, ela conta a história de Simone, travesti, e Sérgio, sua versão masculina que virou pastor evangélico.

Após uma experiência de quase morte, ele se transforma num “pregador fanático”. Mantém, no entanto, desejos da época em que usava peruca e vestidos curtinhos na Ladeira da Montanha, área degradada da velha Salvador (BA).

Virginia acredita que o sistema binário de macho e fêmea não se aplica mais, e que o pastor e a travesti nunca poderão ser água e azeite, por mais que ele assim o deseje.

Hoje, Sérgio lidera a Igreja do Mistério ou Rêtêtê, que está surgindo no subúrbio da Bahia. Os missionários de Sérgio são da turma dos “ex”: ex-presidiários, ex-traficantes, ex-prostitutos, ex-viciados em crack e ex-gays.

“É a África ancestral com a Bíblia em punho”, afirma Virginia. “Sincretismo entre o candomblé e o evangélico. Muito transe, incorporação e testemunhos de fé.”

EX?

“Tenho amigos que se dizem ex-gays”, diz Márcia Pantera, pouco antes de ensaboar seu rosto e esfregar bastante a toalha até remover a maquiagem e virar Carlos Márcio novamente.

“Ex-gays?”, questiona em seguida, levantando a sobrancelha desenhada com lápis preto. “Ex-estuprador? Ex-traficante? Será que são ex? Será que eu vou querer casar com uma mulher, ela sabendo que eu sou ex-gay? Será que se passar um cara do meu lado eu não vou olhar pra ele?”

Na cozinha da prima, Márcia (ainda montada) conta que, de vez em quando, vai a igrejas evangélicas, para se sentir mais próxima de Deus. Mas tampa os ouvidos se o pastor começa a falar para mudar sua orientação sexual ou o modo como se veste.

Conta já ter ido à mesma Igreja Universal que vai inaugurar o templo destruído em “Inferno”. E que a visita não foi nenhum paraíso para ela.

“Me senti acuada. Primeiro, tem que estar vestidinho pra entrar na igreja. Aí você vai para a igreja e o pastor vai falar: se acreditar em Deus, vai levantar agora. Levanta e anda! Eu já sabia daquilo. Da força que tenho para levantar e andar”, diz.

“Eu tenho um Deus que é muito verdadeiro na minha vida. Qualquer lugar, dentro de um ônibus lotado, posso estar conversando com Ele.”

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Noé e os dinossauros http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/30/noe-e-os-dinossauros/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/30/noe-e-os-dinossauros/#respond Fri, 30 May 2014 14:43:15 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=405 Continue lendo →]]> Ebenezer, fóssil do dinossauro que teria morrido há 4.350 anos (foto: divulgação)

O fóssil batizado Ebenezer, que seria ‘contemporâneo de Noé’, é a ‘Mona Lisa’ do Museu da Criação (foto: divulgação)

Homens e dinossauros caminhando lado a lado. Se você acha que já viu esse filme, pode tirar o tiranossaurozinho da chuva.

No Museu da Criação, essa ideia não é uma fábula ficcional à la “Jurassic Park”.

O espaço, gerenciado pela igreja Answer in Genesis (“Resposta na Gênesis”), reproduz a noção bíblica de que Deus fez o mundo em seis dias e tirou uma folga no sétimo, há provavelmente 6.000 anos.

Os lagartões não seriam incoerentes com o “design inteligente”, como é chamado o planejamento divino da gênese: teriam brotado no sexto dia, junto com gado, répteis, feras, Adão e Eva.

“Nós usamos os dinossauros em todo o museu para proclamar as verdades da ‘Gênesis’ [livro inicial da Bíblia] e rejeitar a evolução darwiniana”, diz Mark Looy, diretor de comunicação do ministério evangélico, por e-mail.

A atual “Mona Lisa” da construção em Peterburg, Kentucky (EUA), é o fóssil de um Alossauro, tipo carnívoro com cerca de nove metros de cumprimento.

Segundo a curadoria criacionista, o animal morreu há aproximadamente 4.350 anos, no grande dilúvio dos 40 dias e das 40 noites, em que poucas e sortudas espécies se salvaram na arca de Noé.

O que vai por água abaixo, nesse caso, é a hipótese de que o último dinossauro desapareceu cerca de 60 milhões de anos atrás. As ferramentas científicas que corroboram a tese são vistas com desconfiança pelo grupo religioso.

“Esses ossos não têm rótulos anexados dizendo quão velhos eles são. A ideia de milhões de anos de evolução é apenas uma visão dos evolucionistas sobre o passado. Nenhum cientista estava lá para ver”, diz um texto no site do museu.

Os dinossauros, por outro lado, teriam deixado suas pegadas na Bíblia. Na “Gênesis”, Deus fala com Jó, aquele da paciência, sobre Behemoth, uma besta gigante que possui ossos “como tubo de bronze” e não treme nem “se o rio trasborda”.

Estudiosos das Escrituras costumam associar essa criatura a um hipopótamo, mas criacionistas acreditam se tratar de um braquiossauro –dino herbívoro e pescoçudo.

Para desqualificar a teoria propagada por Charles Darwin, o museu questiona por que fósseis não revelam “dinossauros em transição”, ou seja, ossadas que mostrem como “répteis gigantes” teriam se transformado aos poucos em outro animal.

“Na verdade, se entrar em qualquer museu, você vai ver fósseis de dinossauros que são 100% dinossauro, e não algo entre os dois. Não há 25%, 50%, 75% ou mesmo 99% dinossauros. Eles são todos 100% dinossauros!”

O CARA DA CIÊNCIA’

Em fevereiro, um debate exibido pela internet opôs Ken Ham, presidente da Answer in Genesis, e Bill Nye, vencedor do Emmy pelo programa infantil em que se apresenta como “The Science Guy” (“o cara da ciência”).

A cena a seguir é relatada por um ex-criacionista: David MacMillan, blogueiro do site Huffington Post.

Nye foi disposto a mostrar uma verdade que estava o tempo todo aos pés do rival. Trouxe um pedaço de rocha do estrato que fica bem embaixo do Museu da Criação. Apontou camadas de criaturas fósseis microscópicas que só poderiam ter vivido e morrido em águas calmas e rasas. Ou seja, demoraram milhões de anos para se formar e jamais passaram por uma fulminante inundação global, como a enfrentada por Noé.

“Mas o criacionismo não é bem-sucedido porque ignora a evidência. O criacionismo é bem-sucedido porque sempre encontra maneiras de reinterpretar a evidência para encaixá-la em seus pressupostos”, escreve MacMillan.

“Ao longo do debate, Ham insistentemente repetiu que, enquanto a pesquisa científica do presente é testável e reproduzível, a investigação científica sobre o passado, o que ele chama de ‘ciência histórica’, nunca pode ser provada.”

MACACADA

Ken Ham, contudo, não está só. Cerca de um terço da população estadunidense não acredita, por exemplo, que o homem evoluiu de outra espécie, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center feita com 1.983 adultos em 2013 (a margem de erro é de 3%).

Mark Looy, o chefe de comunicação da igreja, afirma que o Museu da Criação atraiu dois milhões de visitantes em sete anos –na semana passada, aliás, esbarrou com uma família de São Paulo por lá.

A entrada para adultos custa US$ 29,95. Para matar a fome, o Café do Noé tem sanduíches como o “Cheese and Bacon Creation Burguer” (US$ 5,59).

Há ainda oferta de oficinas como “Monkey Business” (“negócio de macaco”).

Eis a descrição: “Os macacos são diversão para crianças de todas as idades, mas tornam-se um negócio sério quando alguns cientistas afirmam que os seres humanos vieram dos macacos! Neste workshop divertido e interativo, as crianças vão aprender que Lucy [famoso fóssil hominídeo] e outros homens chamados de macacos não estão na árvore genealógica humana. Em vez disso, entenderão que as pessoas foram criadas especialmente à imagem de Deus”.

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O pastor e o pornô http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/28/o-pastor-e-o-porno/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/28/o-pastor-e-o-porno/#respond Wed, 28 May 2014 13:16:45 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=389 Continue lendo →]]> foto cartas Pr Giuliano Ferreira

Giuliano Ferreira, 35, dançou na vida até virar pastor evangélico.

Antes de chegar à Assembleia de Deus, ele viajou o mundo com a trupe de dançarinos da travesti Eloína dos Leopardos –era um dos moços-felinos nus ao redor da amiga de Rogéria. As duas transformistas criaram “A Noite dos Leopardos” nos anos 1980, numa galeria em Copacabana onde fica hoje uma Igreja Universal.

Foi go-go boy em casas noturnas, “daquelas elitizadas”, em São Paulo e no Rio. Sem revelar nomes, diz ter se engraçado com “um verdadeiro furacão”, que na época “trabalhava numa grande emissora de TV”.

Descreve o ofício “como um show de stripper, cada um tinha um personagem”. Seu predileto: o cauboi. “Também já virei Zorro, Mister M., ‘Titanic’, que fazia sucesso  na época… Quando algo se destacava, eu aproveitava”.

Dos 18 anos 24 anos, enfim, Giuliano era o rei do mundo –pornô.

“Com a ascensão das minhas performances, recebi o convite para os filmes”, conta. Começou com cachês pequenos, que hoje calcula equivalerem a R$ 200 por cena.

No auge, como Julio Vidal ou Juliano Ferraz, seus dois pseudônimos garanhões, chegava a tirar R$ 1.500 por dia. Até decidir largar tudo para virar evangélico e viver da venda de Bíblias, CDs, DVDs e livros (não revela a nova renda).

Um dos produtos para aumentar o caixa foi lançado em abril. Na autobiografia “Luz, Câmera, Ação e Transformação (editora Semeando, R$ 19,90, sem frete incluso), o evangelista evidencia esse “antes” e o “depois” em sua vida.

Na capa, ele como go-go boy, com blusa de marinheiro ajustada a uma cordilheira de músculos. Na contracapa, a versão convertida, de paletó e Bíblia na mão.

capa livro

Giuliano estima ter feito 300 filmes, atuando com homens (“no começo de carreira”) e mulheres. O mais famoso: “A Primeira Vez de Rita Cadillac”, de 2006. A obra da produtora Brasileirinhas trazia uma inédita cena lésbica da protagonista, já cinquentona.

Giuliano diz ter contracenado com a ex-chacrete na frente da câmera e a consolado após o diretor gritar “corta!”.

“Quem a conhece sabe que a Rita é um personagem, como eu era. Não sou nada daquilo que passava no filme. Ela também não. Era até um pouco tímida. Chorava muito. ‘Cara, estou fazendo isso por pura necessidade’, dizia. Eu a entendi plenamente. As pessoas pensam que ali atuava um bando de pervertidos. Mas tinha pai e mãe de família buscando o sonho de uma vida melhor.”

TITANIC

Na adolescência, trabalhou como contínuo no setor de transporte da Folha e, depois, como auxiliar de redação de outra publicação da casa, a extinta “Notícias Populares”. Ao perder o emprego, sentiu a vida ir a pique. Como o Titanic.

Aos 18 anos, engravidou uma menina mais nova, que largou o filho a seus cuidados. Desempregado e pai solteiro, viu na indústria pornô uma boia de salvação.

Aos 24 anos, com carreira consolidada no circuito para maiores de 18, sentiu a “mão de Deus” guiando a mão não tão habilidosa de um dentista trapalhão.

Durante uma gravação, sentiu o dente inchado. Procurou ajuda odontológica para extrair o ingrato, mas a coisa degringolou para uma infecção generalizada. Foram cinco dias de coma, afirma.

“Mas não culpo o dentista. Vejo a mão de Deus em tudo isso. Para eu poder parar e tomar um rumo.”

O rumo, na ocasião, foi a Igreja Batista, seu primeiro “pit-stop” evangélico. Acabou estudando teologia num núcleo de membros da Assembleia de Deus. “Até que aceitei o chamado de Deus para pregar a palavra.”

VIRA A PÁGINA

Casado  há 11 anos, com um filho e um enteado, Giuliano mora em São Carlos, a 244 Km de São Paulo. Pode até ter transformado seu passado num livro aberto. Mas garante que fez questão de virar essa página.

Hoje, condena qualquer tipo de pornografia –vê seu antigo ramo como uma espécie de “prostituição, segundo a Bíblia”. E defende “princípios da família”, como casar virgem.

“Tenho a certeza que uma pessoa que se casa gostaria de saber que sua esposa não se relacionou com outra pessoa e se guardou somente para ele”, diz.

“Agora vão falar: ‘Que isso, você fazia filmes  e agora tá assim careta!’”, reconhece. “Amo minha mulher e respeito muito ela, que rompeu as barreiras e se casou comigo, um cara que tinha já tido muitas pessoas na vida.”

O pastor diz que ainda há quem o olhe de um jeito “meio diferente” nos cultos. Mas que a igreja, no fim, cumpre sua “vocação”.

“Ela é para acolher, independentemente se é drogado, homossexual, prostituta. O próprio Jesus disse: eu vim para os doentes, não para os sãos”, afirma o hoje engravatado pastor Giuliano, com a camisa abotoada até a última casinha.

O rei do pornô não está mais nu.

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'Psicóloga cristã' na mira http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/23/psicologa-crista-na-mira/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/23/psicologa-crista-na-mira/#respond Fri, 23 May 2014 15:09:30 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=373 Continue lendo →]]> Marisa Lobo, a “psicóloga cristã”, deve abandonar a primeira metade dessa autodenominação.

Assim concluiu o Conselho Regional de Psicologia do Paraná. A entidade, que representa os profissionais do Estado, decidiu cassar o registro de Marisa na sexta passada (16).

A fiel da Igreja Batista e psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná  é acusada de infringir o Código de Ética da categoria ao oferecer “cura gay” a seus pacientes –a cartilha proíbe “qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas”.

Leia também: ex-gay, ex-ex-gay e a tal da cura gay

Marisa Lobo, que diz preferir 'meu filho machinho, que nem a Claudia Leitte' (Gabriel Cabral/Projetor)

Marisa, que já disse preferir ‘meu filho machinho, que nem a Claudia Leitte’ (Gabriel Cabral/Projetor)

Marisa nega. É, afirma, um crime sem corpo: falta “achar o gay que curei”.

Diz-se vítima de “maquiavélica perseguição religiosa”. Um de seus escudeiros é o amigo e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), a quem já recebeu em sessões informais de terapia, por internet e telefone.

Feliciano assinou um artigo no site Gospel Prime culpando o “sindicalismo gay” pela decisão.

O processo remonta a 2012. Na época, Marisa disse à Folha compartilhar a opinião da cantora Claudia Leitte: “Amo [gays], mas prefiro meu filho machinho”. 

Segundo a ré, os conselheiros foram unânimes na condenação. A entidade paranaense afirma que não se pronunciará até o resultado do julgamento, pois o processo corre em sigilo. Marisa afirma que já recorreu ao Conselho Federal de Psicologia.

‘EX-GAYS’

A cartilha dos psicólogos diz que a psicologia é laica, fim de papo. Marisa pensa o contrário. E afirma não estar só. “Muitos estudantes [evangélicos] de psicologia estão me procurando, reclamando que são humilhados nas faculdades.”

Para Marisa, homossexuais arrependidos não são nenhum unicórnio. Eles existem, sim, e a (ainda) psicóloga diz estar disposta a reunir vários deles, junto com suas famílias, num evento em agosto. Quer convidar os presidentes do Conselho Regional do Paraná e de grupos LGBTT para “mostrar ao mundo essa hipocrisia de usar maconha, fazer aborto, ser gay, mas não dar a um ex-gay o direito de existir sem virar chacota”.

“Tenho um grupo de 49 amigos ex-gays no Whatsapp e um grupo no Facebook com mais de 150 ex-gays. São pessoas que existem, e eu, como psicóloga, não posso dizer que eles existem sem ser acusada de homofóbica.”

Se a cassação sair do papel –e Marisa do consultório–, ela diz já ter planos. Espera engrossar a bancada evangélica no Congresso. Conta que sairá candidata a deputada federal pela legenda do “mentor Feliciano”, o Partido Social Cristão. “Agora é a vez do milagre de Deus na minha vida.”

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