Religiosamentecatólica – Religiosamente http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br Bastidores e curiosidades do mundo religioso Tue, 03 Feb 2015 21:35:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A cartilha eleitoral da CNBB http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/06/10/cnbb-e-a-fe-na-politica/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/06/10/cnbb-e-a-fe-na-politica/#respond Tue, 10 Jun 2014 18:14:08 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=439 Continue lendo →]]> Então candidata, Dilma Rousseff comunga durante missa em Aparecida, na campanha de 2010 (Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress)

Dilma comunga durante missa em Aparecida, na campanha de 2010 (Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress)

Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional.”

Se papa Francisco falou, tá falado. Atrás de mais “influência na vida social e nacional”, como pediu o pontífice no ano passado, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lançou uma cartilha com 29 diretrizes para o católico se ligar nas eleições de 2014.

Isso porque 2013 talvez seja um ano que terminou. “Depois das significativas manifestações de junho e julho de 2013”, ressalta a CNBB, o “discurso das ruas” evidencia a indigestão com “a maneira como os políticos eleitos vêm exercendo o poder”.

As respostas, contudo, não estariam nos protestos: para os bispos, esse “clamor contra o poder se torna fim em si mesmo e deixa, portanto, de ser verdadeira representação popular”. Aí que entraria “a intervenção dos cristãos na política, como eleitores ou como candidatos”.

Dom Joaquim Mol sobre os políticos: 'Não existe categoria que fira mais a sensibilidade do povo brasileiro' (Marcos Figueiredo/Divulgação)

Dom Joaquim Mol: ‘Políticos sofrem um repúdio do povo’ (Marcos Figueiredo/Divulgação)

REFORMA JÁ

A entidade evita fulanizar a política, mas levanta bandeiras claras, como a “democratização da mídia” e a “urgência da reforma política” –isso enquanto distribui panfletos com “cartões vermelhos” à Copa do Mundo.

A reforma política defendida prevê um novo sistema de eleições, com dois turnos: no primeiro, o eleitor vota no partido preferido; depois, cada sigla oferece o dobro de candidatos para o número de vagas que conseguiu eleger.

Por exemplo: na primeira rodada, o partido ganhou quatro cadeiras na Câmara; na segunda, terá que apresentar oito nomes para o eleitor.

Isso obriga os partidos a elaborar programas diferentes uns dos outros. Hoje, são quase todos iguais”, diz dom Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte, reitor da PUC-Minas e presidente da comissão da CNBB para Acompanhamento da Reforma Política.

TUDO IGUAL

Quase todos iguais são também os políticos, ao menos no imaginário popular, afirma dom Joaquim. “Eles, grosso modo, sofrem um repúdio, uma resistência, uma repulsa do brasileiro. Não existe categoria que fira mais a sensibilidade do povo.”

Nos moldes do Ficha Limpa, o projeto de lei de iniciativa popular endossado pela CNBB tem apoio de quase cem entidades, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral).

A proposta também quer vetar a doação de empresas para campanhas (“não é a porta, mas a porteira da corrupção”), elevar a 50% o mínimo de candidaturas femininas por partido (“isso tem a ver com sua condição de mulher, viu, Anna?”) e aumentar a participação popular nas decisões importantes do governo.

Imagine um projeto de lei que queira vender e repartir a Petrobras. Essa decisão só poderia ser tomada a partir de um plebiscito, um referendo”, exemplifica.

Com o documento, os bispos convocam católicos a deixar de lado a ideia de que política e religião são a água e o azeite da sociedade.

Embora peça mais candidatos cristãos na cartilha, a CNBB não admite uma espécie de “bancada católica” no Congresso, algo semelhante à bancada evangélica.

Achamos que não é o papel da nossa igreja. Aliás, achamos que não é o papel de igreja nenhuma”, diz dom Joaquim.

SANTINHO

Qual deve ser, então, o papel da Igreja Católica na vida política do país?

No século 20, intelectuais como Sigmund Freud estavam convencidos de que a religião era o novo apêndice: mais atrapalhava do que ajudava, e era questão de tempo até que a evolução secular a eliminasse do organismo social.

Se Freud não explica as eleições de 2010 no Brasil, há uma penca de marqueteiros políticos tentando entender quão importante ainda é, afinal, o voto religioso –aquele capaz de fazer o mesmo candidato comungar com padres, pregar ao lado de pastores e aderir ao Shabat dos rabinos, e se tiver um tempinho livre ainda jogar uma rosa pra Yemanjá.

A força política das igrejas imprimiu sua marca naquele ano, e a orelha da presidenciável Dilma Rousseff ficou mais vermelha do que bandeira do PT.

Em 2007, como ministra da Casa Civil de Lula, ela disse ser “um absurdo” que não houvesse descriminalização do aborto no Brasil, em sabatina da Folha.

O bispo de Guarulhos, dom Luiz Gonzaga Bergonzini (morto em 2012), não esqueceu. Ele foi responsável pela encomenda de 2,1 milhões de panfletos anti-Dilma que traziam um “apelo a brasileiros e brasileiras”: não vote em quem é a favor da “política antinatalista de controle populacional, desumana, antissocial e contrária ao verdadeiro progresso do país”.

Dom Joaquim Mol diz que, assim como em 2010, manifestações favoráveis qualquer candidato valerão puxões de orelha. “Não é nosso papel, somos padres e bispos. Essas pessoas serão advertidas como [dom Bergonzini] foi. ‘Padre fulano de tal, você não pode fazer isso. Você deve pedir desculpas à sua comunidade.”

Se o mensageiro pecou, a mensagem continua de pé. A visão da Igreja ainda é desestimular o voto a quem facilite o aborto, um “erro muito grave”, diz o bispo.

A união entre homossexuais, por outro lado, já não é vista como antigamente.

Nos últimos anos, a CNBB bateu de frente com a adoção de crianças por casais gays e a obrigação dos cartórios de registrar casamentos entre homossexuais.

No mês passado, deu sinais de que está aberta a diálogo. Fala, agora, que a vida a dois depende de “amparo legal”.

“Essas pessoas têm na sua escolha o direito à segurança legal. O que não podemos é considerar o casamento religioso”, diz dom Joaquim.

Mas dá para considerar um candidato ateu, segundo o católico.

Em 1985, o então senador Fernando Henrique Cardoso viu a eleição para prefeito de São Paulo voar pela janela após um debate na TV. O mediador Boris Casoy perguntou se ele acreditava em Deus. FHC gaguejou: ora, isso é uma questão de foro íntimo. Jânio Quadros colou a pecha de descrente no oponente.

Para dom Mol, “não importa se quem vai presidir o Brasil é evangélico, católico, ateu”. Faz mais diferença, afirma, ser coerente do que devoto.

“Até entendo que candidatos possam procurar igrejas em tempo de eleição, para dizer que respeita a relação institucional entre Estado e religiões. Mas se usar isso para expressar fé que não e verdadeira –alguém que nunca vai à Igreja Católica aparece na missa e comunga–, isso é hipocrisia pura. Não teria dúvida em dizer: ‘Não vote nesse candidato.”

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Os jesuítas de volta ao poder http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/19/os-jesuitas-de-volta-ao-poder/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2014/05/19/os-jesuitas-de-volta-ao-poder/#respond Mon, 19 May 2014 15:06:13 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=342 Continue lendo →]]> Padre Contieri em sua sala, no Pateo do Collegio (Gabriel Cabral/Projetor)

Padre Contieri em sua sala, no Pateo do Collegio (Gabriel Cabral/Projetor)

Há algo no ar quando uma revista como a “Rolling Stone”, que já colocou na capa Britney Spears adolescente de calcinha e sutiã segurando um boneco do Teletubbie, estampa em sua primeira página um senhor de 77 anos, cabelos brancos, crucifixo e solidéu.

A edição de fevereiro trouxe pela primeira vez um papa, o Francisco, como protagonista. O título remetia ao cancioneiro de Bob Dylan: “The Times They Are A-Changin’”.

Os tempos parecem mesmo estar mudando: para a Igreja Católica, que vê no papa pop um estanque contra a sangria de fiéis, e também para a Companhia de Jesus, de onde saiu o novo pontífice.

“Francisco tem dado vitalidade à Igreja. Não tem com quem o papa não fale”, diz o padre Carlos Contieri, 52.

Para Leandro Karnal, professor de história na Unicamp e autor de “O Teatro da Fé” (Hucitec), o papa jesuíta tem tino publicitário.

Lembra que Francisco é aquele que pega transporte público, cozinha a própria comida, recusa os sapatos bordô Prada de Bento 16, telefona para seu velho sapateiro, dispensa palacetes e paga do próprio bolso uma humilde hospedagem. Mas o papa é também aquele que nunca deixa de avisar a imprensa e os fotógrafos nessas ocasiões, diz.

“Um homem que exerce cargos é obrigado a jogar para a torcida. Ele não é um ator com experiência anterior [em teatro], como foi João Paulo 2º, ou um tímido que se assustava com massas, como Bento 16, mas é um homem com consciência de palco.”

Contieri discorda “plenamente” dessa opinião (“não é do feitio de Francisco”), mas diz incentivar a discussão. “Temos uma palavrinha que não é mágica: discernimento.”

O padre usa seu MacBook para preparar a missa do meio dia que seria celebrada na semana passada, em plena “super quinta” de protestos –que considera “legítimos”, desde que sem violência, diz, apertando os olhos sob o óculos de aro fino prateado ao sorrir.

Na sua mesa de trabalho, no Pateo do Collegio, um peso de papel em forma de caramujo segura anotações analógicas do religioso, que neste ano acumula a direção do Pateo, do Museu de Arte Sacra em Embu e do bicentenário de restauração da ordem jesuíta.

O “discernimento” jogou os jesuítas numa espiral de ascensões e quedas ao longo de cinco séculos.

Tal qual uma Coca-Cola dos grupos religiosos, a Companhia se disseminou pelos quatro cantos do mundo. Enviou seus “soldados de Cristo” para resistir à Reforma Protestante. Liderou com reis e à margem deles.

Em 2014, comemora 200 anos desde que a Igreja abriu-lhes a porta novamente, após quatro décadas de perseguição. Chega agora no topo de uma instituição com quase 2.000 anos, num mundo que parece ter dificuldade de lembrar do “post que bombou” dois dias atrás.

ERA UMA VEZ

Inácio de Loyola, um soldado basco que leu “A Vida de Cristo” após ter a perna destruída por uma bala de canhão, criou em 1534 a ordem dos jesuítas –uma das fortalezas de poder na era das navegações. São Paulo nasceu em torno do pátio do colégio controlado por um de seus padres, José de Anchieta, confundador da cidade que virou em abril o terceiro santo brasileiro

 Na época, o problema era poder demais: com mais de 700 centros de ensino, os jesuítas eram mal vistos por parte da realeza europeia.

No dia 21 de julho de 1773, a Companhia de Jesus era pop, mas por motivos infames.

 Seus seguidores, considerados muito poderosos, foram acusados de meter o bedelho em diversos governos. Reis se sentiram ameaçados e pressionaram o papa Clemente 14, que mostrou pouca clemência e baniu da Igreja a ordem religiosa.

 No Brasil, a coisa ficou feia 15 anos antes. Ao longo de dois séculos, a Companhia elaborou gramáticas em tupi para propagar sua fé entre os indígenas e rivalizou com colonos que queriam escravizá-los. “Diziam que a Companhia construía um Estado dentro de um Estado”, resume Contieri.

Havia 2.617 membros espalhados pela América Latina Quando a ordem foi expulsa da colônia portuguesa.

O papa Pio 7 reabilitou o grupo em 1814 (voltaram ao Brasil 28 anos depois). Restavam cerca de cem membros sobreviventes à época da expulsão global. “Nesses 40 anos, o mundo deu uma guinada violenta. No século 16, o mundo é teocentrista, e governos, quase teocratas. Com a Companhia restaurada, estamos em pleno tempos das luzes”, diz Contieri.

CRISE DE SENTIDO

Hoje, o problema da Igreja Católica como um todo pode ser poder de menos. Os tempos estão mudando mais rápido do que nunca, reconhece o padre de espessa barba negra com chumaços brancos, cultivada há 30 anos, que lhe confere um certo ar de “gêmeo bom” do Zé do Caixão.

O desafio é não submergir no século 21. E os missionários de hoje têm uma tarefa e tanto pela frente, na “humilde opinião” do primeiro padre da família Contieri, originária de Valinhos (SP). “Precisamos ajudar as pessoas a encontrar o sentido da vida. Neste mundo bagunçado, a crise é a crise do sentido.”

Contieri: a Companhia quer ajudar as pessoas a 'encontrar o sentido da vida' (Gabriel Cabral/Projetor)

Contieri: ‘Devemos ajudar as pessoas a encontrar o sentido da vida’ (Gabriel Cabral/Projetor)

A Companhia tem agora menos de 600 membros no Brasil. Questionado se sabia de cabeça quantos “calouros” moram hoje no centro da juventude jesuíta, em Campinas, Contieri ri. Não é tão difícil decorar. “Quatro!”

“Hoje tem procurado gente mais madura, nem tão jovem assim”, diz, ecoando em seguida uma diretriz da Igreja Católica contemporânea: “É infinitamente preferível qualidade a quantidade. Queríamos ter mais gente, mas não vamos vender a alma por causa de um número”.

O milagre da multiplicação de fiéis, contudo, é uma das esperanças depositadas na “era Francisco”.

 

HABEMUS PAPAM

No dia 13 de março de 2013, o “habemus papam” veio carregado de novidades.

Duas semanas antes, Bento 16 pegou o Santo Ofício pelo colarinho sacerdotal ao anunciar uma surpreendente “aposentadoria”. Antes dele, o eremita Celestino 5 havia sido o único papa a renunciar, e isso em longínquos 1294.

O jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio, escolhido pelo conclave de cardeais para substituir o alemão, estreou outras modalidades de papado. Após 23 Joãos, 16 Bentos e 12 Pios, virou o primeiro papa latino-americano e o primeiro Francisco –dupla homenagem a São Francisco de Assis, do voto franciscano de pobreza, e São Francisco Xavier, jesuíta pioneiro.

PRÓXIMOS CAPÍTULOS

Para Leandro Karnal, o professor da Unicamp, a Companhia tem fôlego para os novos tempos.

“Ela seria maior do que a Opus Dei ou os carismáticos? Difícil responder. Pelo menos a opinião geral expressa no cinema é mais simpática  à Companhia, que gera filmes como ‘A Missão’, enquanto a Opus gera obras como ‘O Código da Vinci’.”

Os jesuístas, ele ressalta, ainda detêm forte influência na educação. No Brasil, controlam seis universidades (como a PUC-RJ e a gaúcha Unisinos) e 15 colégios (entre eles, o paulistano São Luís e o carioca Santo Inácio).

Segundo Contieri, a Companhia de Jesus passa por um processo de revisão, que vai determinar rumos para os próximos anos. A autocrítica está incluída no pacote, afirma.

Nesse sentido, não deixa de ser heterodoxo o convite para que Karnal, um ateu confesso que é referência no estudo sobre jesuítas, encerrasse um simpósio organizado pelo grupo na semana passada, com cerca de 70 doutores, num hotel próximo à avenida Paulista.

Se numa das noites o grupo serviu-se de medalhão com pasta e legumes, num jantar de confraternização, no sábado passado (9) a plateia digeriu pesadas críticas do professor Karnal. Como o fato de não haver na ordem representantes femininas –um equivalente a freiras e madres, por exemplo.

“Não está na pauta abrir espaço para mulher ser uma ‘jesuitina’. Há muitas possibilidades de viver nossa espiritualidade como leiga”, diz Contieri.

O acadêmico ainda comparou o polonês João Paulo 2, que foi ator na juventude, a Ronald Reagan e Arnold Schwarzenegger, políticos egressos de Hollywood. Sobre o alemão Bento 16, brincou: “Pensava seis vezes antes de sorrir”.

Um mal do qual, definitivamente, não padece seu sucessor.

Decoração na sala do padre (Gabriel Cabral/Projetor)

Decoração na sala do padre (Gabriel Cabral/Projetor)

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As e-Bíblias http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/12/09/as-e-biblias-curtir/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/12/09/as-e-biblias-curtir/#respond Tue, 10 Dec 2013 01:16:09 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=249 Continue lendo →]]> O maior best-seller de todos os tempos saiu do papel.

De janeiro a outubro, a SBB (Sociedade Bíblica do Brasil), entidade que lidera esse mercado entre o público evangélico, vendeu 27.225 “e-Bíblias”.

O recordista “Bênçãos de Deus para Você” (20.842 downloads), com 16 páginas de passagens bíblicas sobre temas como “paz” e “amor”, custa R$ 1,30.

Em cultos, é bastante comum ver pastores e fiéis deslizarem os dedos por iPhones protegidos por capinhas temáticas (“keep calm and trust God”), séculos após aquele dia no monte Sinai em que Deus teria entregado duas tábuas de pedra a Moisés com dez mandamentos rabiscados por seus próprios dedos.

Até consigo imaginar como seria narrar a saga bíblica nos tempos modernos (“@noe convidou você para a Balada do Dilúvio”, “@ApostoloPedro negou três vezes o pedido de amizade de @JC_filhodedeus_33”).

A linguagem saidinha assim, naturalmente, é cortesia da casa. Mas não está tão distante assim das novas estratégias para chegar sobretudo à ala mais jovem da igreja.

Certa vez, num templo da igreja Bola de Neve, conheci Mariana, menina de trancinhas, 15 anos no máximo, que lia no iPad de capa rosa fosforescente uma versão das Escrituras na fonte “comic sans” (cada bloco de texto numa cor diferente).

“Os livros digitais permitem a customização de algumas características, como tipo e tamanho da letra, além de ferramentas de pesquisa rápida, marcação de texto e inserção de notas pessoais. Já os aplicativos permitem uma experiência audiovisual completa, possibilitando ouvir, ver e ler a Bíblia em seu contexto temático e geográfico”, afirma Erní Seibert, secretário de Comunicação da SBB.

Versão em grego, reproduzida em iPad, na mostra "O Livro dos Livros", no Museu Terras da Bíblia, em Jerusalém

Versão reproduzida em iPad, na mostra “O Livro dos Livros”, no Museu Terras da Bíblia, em Jerusalém

“No princípio era o verbo, e agora o verbo está num app”, dizia o título de uma reportagem de julho do “New York Times”.

O jornal escreveu sobre onde, quando e como os fiéis leem a Bíblia atualmente. Deu destaque para o app gratuito YouVersion, a primeira Bíblia disponível na loja da Apple, em 2008.

O aplicativo inclui mais de 600 traduções em 400 línguas, com versões que servem para públicos tão distintos quanto católicos, judeus messiânicos e ortodoxos russos.

No mês em que a matéria foi publicada, o YouVersion havia alcançado 100 milhões de downloads para computador, tablet ou celular –seu convite para o seleto clubinho de tecnologias start-up como Instagram e Dropbox. Hoje, já são 120 milhões de instalações.

A pedido do “NYT”, um empreendedor do Vale do Silício avaliou iniciativas afins.

“Certamente vai ser o canal de distribuição mais importante para quem trabalha com a criação de conteúdo para a fé cristã. Onde mais você pode ir e chegar a 100 milhões de pessoas?”

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Aula de Facebook para bispos http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/11/12/aula-pratica-de-facebook-para-bispos/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/11/12/aula-pratica-de-facebook-para-bispos/#respond Tue, 12 Nov 2013 23:09:52 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=161 Continue lendo →]]> A Bíblia tem 73 livros, 1.330 capítulos e 35.527 versículos, levando em conta uma determinada tradução de Antigo e Novo Testamento.

O retangulozinho no Twitter comporta, no máximo, 140 caracteres.

“Não é uma linguagem igual à de Guttenberg, né? Agora ela é rápida, simples, espontânea”, diz (por telefone) a irmã Elide Maria Fogolari, uma senhora de 73 anos que no dia 10 de junho anunciou sua entrada triunfal em outra rede social assim:

 

Olá amigos e amigas!

Finalmente estou entrando no facebook! Não sei se vou dar conta. Fico mais preocupada com as atividades da comissão do que estar no facebook. Mas vamos lá. Um grande abraço, Elide

 

Se “no princípio era o verbo”, como diz a abertura do Evangelho de João (em 24 caracteres), agora a forma de relatá-lo modernizou: na semana passada, cerca de 55 bispos da Igreja Católica passaram quatro dias numa colônia em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife (PE), para um curso de comunicação sobre a era digital.

Pela manhã, exposições teóricas com “leigos”: professores de comunicação de várias universidades do país. À tarde, oficinas práticas de rádio, TV (“media training”) e redes sociais (Twitter e Facebook).

“O mais surpreendente foi constatar o potencial das redes sociais. Vários bispos nunca tinham mergulhado nessa prática e saíram entusiasmados como novos frequentadores do continente digital”, diz (por e-mail) dom Dimas Lara Barbosa, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação e arcebispo de Campo Grande (MS).

 

A IGREJA E AS MASSAS

Há meio século, durante o Concílio Vaticano 2º (1962-65), a Igreja aprovou –com certa dificuldade– o decreto “Inter Mirifica”, sobre os meios de comunicação social. Já então se falava das “maravilhosas invenções da técnica”, segundo dom Dimas.

Na prática, mostrava o Vaticano preocupado em dialogar com fiéis afastados da religião. Era preciso passar o espanador no discurso eclesiástico perante as massas  –a TV a cores tinha sido introduzida nos Estados Unidos na década anterior.

Foi esse Concílio, vale lembrar, que pôs em xeque a obrigação de rezar as missas em latim, em vez de celebrá-las na língua de cada país.

O papa Bento 16 tuitando pela primeira vez, no dia 12/12/12 (Foto: Efe)

No dia 12/12/12, Bento 16 se tornou o primeiro papa tuiteiro. Meses antes, havia conclamado membros da Igreja a se tornarem “cidadãos digitais”.

Mas foi seu sucessor, Francisco, que caiu no gosto do público como “papa 2.0” .

Ele possui perfil em nove línguas (português, inglês, alemão, árabe, espanhol, francês, italiano, polonês e latim).

Em língua portuguesa, são 870 mil seguidores. Especificamente hoje, Francisco (ou quem administra sua conta) só postou um recado até agora, 20h15: “Lembremos as Filipinas, o Vietnã e toda a região atingida pelo furacão Haiyan. Sede generosos na oração e na ajuda concreta”.

Há alguns dias, o administrador do Twitter papal trocou as bolas e colou um indecifrável recado em polonês –desconfio de algo como a “constância da fé na luta contra o mal”, o que me parece mais provável do que uma receita de spaghetti alla carbonara ou uma sucessão de carinhas tristes pelo modo como Justin Bieber vem se comportando nos últimos dias.

“O papa Francisco é um grande comunicador”, afirma dom Dimas. “Ele tem a coragem de abordar todos os temas, inclusive aqueles que possam parecer mais desgastantes para a vida da Igreja, com toda a transparência.”

A versão em português do Twitter do papa Francisco

CURTIR

Agora, o princípio é soltar o verbo.

Para a irmã Elide, que tem “blog, Twitter, Facebook e Gmail”, a turma se entusiasmou com o intensivo em Pernambuco. Se alguns bispos já estava inteirados sobre as ferramentas, outros começaram a “entender um pouco o que é site”, diz.

“Se você está no carro e tem um pensamento curto, uma frase, pode perceber que vai fazer bem pra muita gente [compartilhá-la]. Vai lá, liga seu celular, posta no Facebook. Pode atingir 10 mil, 20 mil pessoas”, conta a freira –que escreveu na rede social de Mark Zuckerberg pela terceira e última vez em setembro.

Compartilhou, então, o vídeo de um cachorro de pelúcia falante que critica quem vive se lamentando que está gordinho, mas “come, come, come” em vez de passar “esparadrapo na boca”.

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Papa Francisco e a 'modern family' http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/11/06/modern-family/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/11/06/modern-family/#respond Wed, 06 Nov 2013 22:45:19 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=95 Continue lendo →]]> Corta para o século 21:

Casais divorciados ainda devem ser proibidos de comungar?

E os casais gays: poderiam batizar seus filhos adotados na igreja?

Como, afinal, a Igreja Católica, vai encarar nos próximos anos a evolução da família moderna?

O monsenhor Vincenzo Paglia, uma espécie de “ministro da Família” no Vaticano, está em São Paulo e conversou hoje com alguns repórteres na Catedral da Sé sobre “o momento histórico” que vive a Igreja Católica.

Explica-se: o papa Francisco lançou um questionário inédito com 38 perguntas, distribuído por paróquias mundo afora.

É claro que as interrogações não são tão diretas quanto as que abrem este texto. Mas lá estão grandes tabus do catolicismo.

De novo blocos da enquete, um se dedica às “situações matrimoniais difíceis” –do divórcio à “convivência ad experimentum” de quem junta as escovas de dente sem subir ao altar. Outro trata da união homossexual.

Esse “Dataigreja”, como bem definiu Clóvis Rossi em na Folha de ontem, não propõe duplos twists carpados em dogmas ou práticas da Igreja –nada de discutir “se o casamento pode ser dissolvido, em vez de de ser ‘até que a morte nos separe’” (citando Clóvis de novo).

Monsenhor Vincenzo me responde assim, por exemplo, sobre a possibilidade de a Igreja aceitar num futuro próximo casais homossexuais: “Podemos encarar todos os problemas, mas a família é aquela de sempre. Se tudo for família, então nada é família”.

Monsenhor Vincenzo Paglia, o ‘ministro da Família” da Cúria Romana, na Catedral da Sé

‘DATAIGREJA’

O “Dataigreja” faz prospecção de terreno. Não à toa demanda que párocos descubram se é possível “calcular numericamente” os diferentes arranjos familiares em seus redutos.

Pergunta-se se o país da paróquia tem leis que aceitem união entre pessoas do mesmo sexo. E ainda: qual a melhor forma de prestar “atenção pastoral” a essas famílias.

A ideia é preparar algo próximo a um “censo” dos católicos. As conferências episcopais precisam entregar um resumo ao Vaticano até o final de janeiro. O resultado será discutido numa assembleia extraordinária convocada pelo papa Francisco para outubro de 2014: o Sínodo dos Bispos sobre a Família.

Os sínodos –reunião periódica de bispos presidida pelo papa– podem acontecer fora de hora se o tema em questão exigir uma definição rápida, explicou no mês passado o padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé.

 

‘COM CERTEZA!’

Monsenhor Vincenzo foge de respostas definitivas (“se eu ter der uma, o sínodo vai ser inútil!”), mas diz que, após o encontro em 2014, a Santa Sé “com certeza terá que mudar a atitude com essas pessoas [divorciados num segundo casamento, no caso]”.

“Não estamos falando nada de abstrato, estamos falando do mundo. O papa quer que olhemos para as famílias que vão bem e vão mal.”

Ainda sobre este assunto: a Igreja pode não autorizar o divórcio, mas espera ampliar o conhecimento sobre situações em que um matrimônio pode ser considerado nulo. Um divórcio, pero no mucho.

O assessor de imprensa da Arquidiocese de São Paulo me dá exemplos: se uma das partes estiver bêbada (penso em Las Vegas), for impotente ou infértil, abandonar o cônjuge ou trair.

 

O INFERNO SEM OS OUTROS

O monsenhor, que preside o Pontifício Conselho para a Família, falou por uma hora em italiano, na companhia do cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo.

Na secretaria da Catedral da Sé, com uma estátua da Sagrada Família ao fundo (Maria, José e o menino Jesus), dom Vincenzo compara a sociedade contemporânea com um prédio onde os andares são habitados por várias gerações, mas sem escadas ou elevadores que criem laços entre elas.

E cita o sociólogo polonês Zygmunt Bauman e seu conceito de modernidade líquida para falar sobre o desmanche das relações pessoais. Sem família, diz, o que nos resta é “o inferno”, pois “o inferno é a solidão”.

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PAC - Programa de Aceleração do Credo http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/10/29/pac-programa-de-aceleracao-do-credo/ http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/2013/10/29/pac-programa-de-aceleracao-do-credo/#respond Tue, 29 Oct 2013 16:57:59 +0000 http://religiosamente.blogfolha.uol.com.br/?p=28 Continue lendo →]]> O governo Fernando Haddad (PT) fez um aceno aos religiosos na sexta passada, 25, nada por acaso o Dia do Pastor.

Começou ali seu “PAC – Programa de Aceleração do Credo”, como bradava um líder evangélico no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo (o de gravata com estampa de pombas e bigodinho à Clark Gable).

O pacote de benesses incluiria abrandar a Lei do Psiu para cultos barulhentos (menos igrejas multadas) e facilitar construção e regularização de templos (mais igrejas liberadas).

Nada saiu do papel ainda, mas o discurso do presidente da Casa, vereador José Américo (PT), foi animador para o segmento. Diante de plateia de pastores, fazendo as vezes de “pagador de promessas”, Américo quitou parte da fatura pelo apoio de evangélicos a Haddad nas eleições.

Foram três parcelas:

1) Fazer uma “diferenciação” na Lei do Psiu, usada para multar igrejas que ultrapassem o limite de ruído permitido (entre 50 e 70 decibéis, nas zonas residenciais, industriais ou mistas).

Em 2011, a revista “sãopaulo”, da Folha, mediu o barulho feito por uma igreja evangélica na rua das Palmeiras, no centro paulistano: 92 decibéis (na mesma pesquisa de campo, a parte de cima do Minhocão oscilou entre 85 e 95 decibéis).

José Américo pediu “mais tolerância” e afirmou que não dá para tratar “boate, roda de samba, pagode e vigília do mesmo jeito”. Muito barulho por nada? A conferir.

2) Liberar a construção de templos religiosos nas chamadas “vias locais” –geralmente ruas menores, mais residenciais, com velocidade máxima de 30 km/h. O veto tem como propósito inibir ruídos e interferências no trânsito da região.

Segundo Américo, essa ideia será abordada no Plano Diretor, que teve sua primeira audiência pública no sábado (27).

3) Regularização de templos. O vereador estimou, num “cálculo conservador”, que metade deles está irregular (ressaltando não ter dados a mão, chutou que a cidade tem cerca de 10 mil igrejas evangélicos e até 3.000 católicas).

Jogou na roda a seguinte alternativa: inserir as igrejas numa lei sancionada por Haddad em setembro, que prevê isenção do Habite-se e anistia para estabelecimentos irregulares de até 5.000 m² (que teriam dois anos para se ajustarem à lei).

O petista defende alvarás provisórios para lugares que não apresentem, por exemplo, riscos de segurança. Diz que a medida beneficiaria sobretudo o templo da periferia, “que está irregular porque foi construído a duras penas”.

E criticou: “O governo multa e depois vai fazer média com eles [religiosos]”.

Dostoiévski e a Igreja Universal

José Américo (segundo, da esq. para a dir.), em cerimônia na Câmara para celebrar o Dia do Pastor

José Américo, católico, sublinha: tem um pastor no seu time de assessores. Ao presidir a cerimônia em homenagem aos líderes, elogiou programas de recuperação de dependentes em drogas tocados por entidades religiosas.

Para tanto, citou Dostoiévski (“Os Irmãos Karamazov”), que por sua vez parafraseara o Evangelho de João: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”.

No mesmo dia, o plenário da Câmara Municipal foi tomado por obreiros da Igreja Universal, que recebiam homenagem à parte, promovida pela bancada do PRB. A igreja é conhecida por evitar aproximações com outras linhas evangélicas –O bispo Edir Macedo, em metáfora pouco sutil, já pregou contra a arte de misturar vinhos.

O pátio da Câmara ficou lotado de auxiliares da igreja que não conseguiram lugar no plenário e tiveram de assistir ao ato solene pelo telão: um batalhão de saia no joelho e terninho azul-marinho (para elas) e camisa branca e calça do mesmo azul, mais a gravata pontilhada de corações vermelhos com a pomba branca no centro, símbolo da Universal  (para eles).

Seriam os “Jesus Blocs”, segundo uma mocinha de coque preso por um palito com –de novo ela– uma pomba branca de porcelana na extremidade.

Obreiros da Igreja Universal lotam plenário da Câmara Municipal para receber homenagem

 

 

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