Negócios à parte
01/08/14 01:31Do lado de fora, a imagem do bispo Edir Macedo era projetada na fachada de 52 metros de altura.
Dentro da Galeria do Templo, uma miniatura de 10 centímetros do Templo de Salomão, a sede de R$ 680 milhões da Igreja Universal, saía por até R$ 9,90.
Comerciantes viram uma oportunidade de negócio na inauguração do espaço –que começou no dia 19 de julho e vem sendo parcelada em vários eventos, o principal deles nesta quinta (31), com presença da presidente Dilma Rousseff e grande elenco.
A família de Bruno Causo, 28, abriu a lojinha há 20 dias. Ele calcula receber até 2.000 pessoas por dia, atrás de souvenires como o boné “Yes! Jesus Salva” (R$ 14,90) ou o chaveirinho de plástico com a imagem do templo e os dizeres “eu faço parte desta glória” (uma dúzia por R$ 12).
O ponto é estratégico: tem dias em que mais de cem ônibus desembarcam na porta do estabelecimento, cada um com dezenas de participantes das caravanas organizadas pela Universal para visitar a nova igreja.
Hoje, a Galeria estima ter dobrado suas vendas: R$ 5.000.
Adepta da Igreja Bíblica da Paz, a família Causo passou a frequentar na Universal “os cultos para empresários das segundas-feiras”, diz Bruno. “Lá preparam a pessoa para enfrentar a vida profissional de uma forma melhor.”
Em todo o país, as igrejas de Edir Macedo começam a semana com a “Reunião da Prosperidade”, para espantar “contas no vermelho, dívidas e falência batendo à porta”.
Já os bares da região deram um chega pra lá no agouro financeiro tirando a bebida alcoólica do cardápio. Tudo para agradar a nova clientela.
O Didonys Cafeteria, por exemplo, virou Skina do Templo e não oferece mais cerveja, pinga ou caipirinha. “É uma logística diferenciada”, diz Marcos Freitas, consultor da casa —que também vende réplicas da réplica da construção salomônica (três por R$ 100).
Marcos faz as contas: se num fim de semana passarem 20 mil pessoas pela redondeza, e 5% dessa multidão fizer um pit-stop no Skina, então já são 500 clientes por dia no self-service de R$ 39,90 o quilo.
A casa já inclusive contratou um garçom poliglota (“o cara fala inglês, francês, espanhol e italiano”) para atender aos estrangeiros que, diz Marcos, não são poucos.
Segundo o departamento de comunicação da Universal, não haverá qualquer tipo de comércio dentro do templo, nem para comes e bebes.
Há, contudo, uma Loja Oficial do Templo ainda em reforma, no térreo do único prédio residencial do quarteirão –30 dos 40 apartamentos pertencem à igreja e servirão a bispos e pastores.
A Universal armou sua própria “logística diferenciada” para organizar o fluxo de pessoas. Uniformizados com camisa branca, a imagem do templo impressa em dourado, centenas de membros da Força Jovem da igreja cercaram o quarteirão, numa espécie de cordão de isolamento para a igreja.
Era a Guarda do Templo, lá para dar “segurança” e “informação” aos transeuntes.
Houve confusão com moradores impedidos de passar pelo entorno da igreja. Uma senhora reclamava da calçada interditada na frente do templo. “Tá errado, a rua é pública, não é só para eles, não.”
As ruas ao redor do endereço foram parcialmente bloqueadas. A Universal cobriu um trecho da avenida Celso Garcia com tapete vermelho.
Por lá passaram seis homens de toga carregando uma réplica dourada da Arca da Aliança –diz a Bíblia que a tábua com os dez mandamentos foi guardada na relíquia, a mesma que Indiana Jones procura em “Os Caçadores da Arca Perdida”.
Do lado de dentro, eis a posição das autoridades na primeira fila: Dona Lu e seu marido, o governador Geraldo Alckmin, a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, o bispo Edir Macedo e sua mulher, Ester, o prefeito Fernando Haddad e Cristiane e Renato Cardoso, filha e genro do líder da Universal.
O mundo político foi em peso ao Brás: ministros de Dilma (Gilberto Carvalho e Aloizio Mercadante) e do Supremo Tribunal Federal (Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello), prefeitos (como ACM Neto, de Salvador) e ex-prefeitos (Gilberto Kassab, de São Paulo).
Os apresentadores Brito Júnior e Ticiane Pinheiro representaram o cast da Record. Netinho de Paula, ex-apresentador da emissora e hoje secretário de Promoção da Igualdade Racial em São Paulo, também apareceu no telão que exibia ao vivo a cerimônia.
Fiel da Universal há 11 anos, a cantora Sula Miranda foi uma das primeiras a chegar entre os 10 mil convidados. Veio com blusa social rosa, terninho bege e saia também bege, rodada e abaixo do joelho. Para combinar, sapato rosa de salto alto com fivela de brilhante –o traje de gala imperou entre o público.
A “rainha dos caminhoneiros” comanda o PRB transporte e é candidata a deputada federal pelo partido comandado por líderes da Universal. Sula elogiava as regras para entrar no local, como não usar decote ou levar celular. “Quero falar com Deus, não preciso desse momento para ficar no Whatsapp.”
Para ela, a abertura do templo é “uma oportunidade que as pessoas têm até de acabar com preconceito com algumas coisas da Universal”.