Aula de Facebook para bispos
12/11/13 20:09A Bíblia tem 73 livros, 1.330 capítulos e 35.527 versículos, levando em conta uma determinada tradução de Antigo e Novo Testamento.
O retangulozinho no Twitter comporta, no máximo, 140 caracteres.
“Não é uma linguagem igual à de Guttenberg, né? Agora ela é rápida, simples, espontânea”, diz (por telefone) a irmã Elide Maria Fogolari, uma senhora de 73 anos que no dia 10 de junho anunciou sua entrada triunfal em outra rede social assim:
Olá amigos e amigas!
Finalmente estou entrando no facebook! Não sei se vou dar conta. Fico mais preocupada com as atividades da comissão do que estar no facebook. Mas vamos lá. Um grande abraço, Elide
Se “no princípio era o verbo”, como diz a abertura do Evangelho de João (em 24 caracteres), agora a forma de relatá-lo modernizou: na semana passada, cerca de 55 bispos da Igreja Católica passaram quatro dias numa colônia em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife (PE), para um curso de comunicação sobre a era digital.
Pela manhã, exposições teóricas com “leigos”: professores de comunicação de várias universidades do país. À tarde, oficinas práticas de rádio, TV (“media training”) e redes sociais (Twitter e Facebook).
“O mais surpreendente foi constatar o potencial das redes sociais. Vários bispos nunca tinham mergulhado nessa prática e saíram entusiasmados como novos frequentadores do continente digital”, diz (por e-mail) dom Dimas Lara Barbosa, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação e arcebispo de Campo Grande (MS).
A IGREJA E AS MASSAS
Há meio século, durante o Concílio Vaticano 2º (1962-65), a Igreja aprovou –com certa dificuldade– o decreto “Inter Mirifica”, sobre os meios de comunicação social. Já então se falava das “maravilhosas invenções da técnica”, segundo dom Dimas.
Na prática, mostrava o Vaticano preocupado em dialogar com fiéis afastados da religião. Era preciso passar o espanador no discurso eclesiástico perante as massas –a TV a cores tinha sido introduzida nos Estados Unidos na década anterior.
Foi esse Concílio, vale lembrar, que pôs em xeque a obrigação de rezar as missas em latim, em vez de celebrá-las na língua de cada país.
No dia 12/12/12, Bento 16 se tornou o primeiro papa tuiteiro. Meses antes, havia conclamado membros da Igreja a se tornarem “cidadãos digitais”.
Mas foi seu sucessor, Francisco, que caiu no gosto do público como “papa 2.0” .
Ele possui perfil em nove línguas (português, inglês, alemão, árabe, espanhol, francês, italiano, polonês e latim).
Em língua portuguesa, são 870 mil seguidores. Especificamente hoje, Francisco (ou quem administra sua conta) só postou um recado até agora, 20h15: “Lembremos as Filipinas, o Vietnã e toda a região atingida pelo furacão Haiyan. Sede generosos na oração e na ajuda concreta”.
Há alguns dias, o administrador do Twitter papal trocou as bolas e colou um indecifrável recado em polonês –desconfio de algo como a “constância da fé na luta contra o mal”, o que me parece mais provável do que uma receita de spaghetti alla carbonara ou uma sucessão de carinhas tristes pelo modo como Justin Bieber vem se comportando nos últimos dias.
“O papa Francisco é um grande comunicador”, afirma dom Dimas. “Ele tem a coragem de abordar todos os temas, inclusive aqueles que possam parecer mais desgastantes para a vida da Igreja, com toda a transparência.”
CURTIR
Agora, o princípio é soltar o verbo.
Para a irmã Elide, que tem “blog, Twitter, Facebook e Gmail”, a turma se entusiasmou com o intensivo em Pernambuco. Se alguns bispos já estava inteirados sobre as ferramentas, outros começaram a “entender um pouco o que é site”, diz.
“Se você está no carro e tem um pensamento curto, uma frase, pode perceber que vai fazer bem pra muita gente [compartilhá-la]. Vai lá, liga seu celular, posta no Facebook. Pode atingir 10 mil, 20 mil pessoas”, conta a freira –que escreveu na rede social de Mark Zuckerberg pela terceira e última vez em setembro.
Compartilhou, então, o vídeo de um cachorro de pelúcia falante que critica quem vive se lamentando que está gordinho, mas “come, come, come” em vez de passar “esparadrapo na boca”.