PAC - Programa de Aceleração do Credo
29/10/13 13:57O governo Fernando Haddad (PT) fez um aceno aos religiosos na sexta passada, 25, nada por acaso o Dia do Pastor.
Começou ali seu “PAC – Programa de Aceleração do Credo”, como bradava um líder evangélico no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo (o de gravata com estampa de pombas e bigodinho à Clark Gable).
O pacote de benesses incluiria abrandar a Lei do Psiu para cultos barulhentos (menos igrejas multadas) e facilitar construção e regularização de templos (mais igrejas liberadas).
Nada saiu do papel ainda, mas o discurso do presidente da Casa, vereador José Américo (PT), foi animador para o segmento. Diante de plateia de pastores, fazendo as vezes de “pagador de promessas”, Américo quitou parte da fatura pelo apoio de evangélicos a Haddad nas eleições.
Foram três parcelas:
1) Fazer uma “diferenciação” na Lei do Psiu, usada para multar igrejas que ultrapassem o limite de ruído permitido (entre 50 e 70 decibéis, nas zonas residenciais, industriais ou mistas).
Em 2011, a revista “sãopaulo”, da Folha, mediu o barulho feito por uma igreja evangélica na rua das Palmeiras, no centro paulistano: 92 decibéis (na mesma pesquisa de campo, a parte de cima do Minhocão oscilou entre 85 e 95 decibéis).
José Américo pediu “mais tolerância” e afirmou que não dá para tratar “boate, roda de samba, pagode e vigília do mesmo jeito”. Muito barulho por nada? A conferir.
2) Liberar a construção de templos religiosos nas chamadas “vias locais” –geralmente ruas menores, mais residenciais, com velocidade máxima de 30 km/h. O veto tem como propósito inibir ruídos e interferências no trânsito da região.
Segundo Américo, essa ideia será abordada no Plano Diretor, que teve sua primeira audiência pública no sábado (27).
3) Regularização de templos. O vereador estimou, num “cálculo conservador”, que metade deles está irregular (ressaltando não ter dados a mão, chutou que a cidade tem cerca de 10 mil igrejas evangélicos e até 3.000 católicas).
Jogou na roda a seguinte alternativa: inserir as igrejas numa lei sancionada por Haddad em setembro, que prevê isenção do Habite-se e anistia para estabelecimentos irregulares de até 5.000 m² (que teriam dois anos para se ajustarem à lei).
O petista defende alvarás provisórios para lugares que não apresentem, por exemplo, riscos de segurança. Diz que a medida beneficiaria sobretudo o templo da periferia, “que está irregular porque foi construído a duras penas”.
E criticou: “O governo multa e depois vai fazer média com eles [religiosos]”.
Dostoiévski e a Igreja Universal
José Américo, católico, sublinha: tem um pastor no seu time de assessores. Ao presidir a cerimônia em homenagem aos líderes, elogiou programas de recuperação de dependentes em drogas tocados por entidades religiosas.
Para tanto, citou Dostoiévski (“Os Irmãos Karamazov”), que por sua vez parafraseara o Evangelho de João: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”.
No mesmo dia, o plenário da Câmara Municipal foi tomado por obreiros da Igreja Universal, que recebiam homenagem à parte, promovida pela bancada do PRB. A igreja é conhecida por evitar aproximações com outras linhas evangélicas –O bispo Edir Macedo, em metáfora pouco sutil, já pregou contra a arte de misturar vinhos.
O pátio da Câmara ficou lotado de auxiliares da igreja que não conseguiram lugar no plenário e tiveram de assistir ao ato solene pelo telão: um batalhão de saia no joelho e terninho azul-marinho (para elas) e camisa branca e calça do mesmo azul, mais a gravata pontilhada de corações vermelhos com a pomba branca no centro, símbolo da Universal (para eles).
Seriam os “Jesus Blocs”, segundo uma mocinha de coque preso por um palito com –de novo ela– uma pomba branca de porcelana na extremidade.