No princípio era o verbo
29/10/13 00:00Caro leitor,
Talvez você seja católico, evangélico, espírita, muçulmano, judeu, budista, hinduísta, corintiano ou adorador de bacon torradinho na manteiga.
Talvez não acredite em nada disso, talvez acredite em tudo ao mesmo tempo.
Três vezes por semana, este blog contará um pouco dos tantos “talvezes” que permeiam o fascinante mundo das certezas religiosas. Um pouco de tudo: dos bilhões que o setor movimenta no mercado de negócios às pequenas histórias que somam, subtraem, multiplicam e dividem nosso incalculável estoque de fé.
Talvez você esteja se perguntando: e quem ela pensa que é para falar da minha religião?
Então vamos lá: nesse sentido, ninguém. Não estou aqui para dizer o que é certo ou errado. Nem para ser condescendente. Tampouco jogar primeiras pedras, tomates ou bytes.
A ideia não é julgar. É escrever sobre um Brasil que está mudando. Por exemplo: o censo do IBGE aponta que, entre 2000 e 2010, a proporção de católicos no Brasil foi de 74% para 64,5%. Já os evangélicos galoparam de 15% para 22% (42 milhões de brasileiros). Por isso, pretendo gastar mais do que um punhado de linhas para falar sobre um segmento tão emergente e, ao mesmo tempo, tão pouco compreendido por quem é de fora.
Agora, sim: sou Anna Virginia, prazer. Na verdade não gosto de bacon (estou mais para aquelas que curtem uma soja grelhadinha no azeite orgânico). Torço para o Botafogo (a depender dos últimos placares, um bom exemplo de via-crúcis). Fui alfabetizada num colégio com nome de santo católico no bairro de Santa Teresa, no Rio, que ficava perto de uma igrejinha (a qual nunca frequentei). Depois migrei para uma escola metodista, do movimento protestante fundado por John Wesley no século 18 (um inglês que guarda semelhança extraordinária com o senhor das caixas de Aveia Quaker).
Boa parte da minha família é espírita (“não praticante”), batizada na Igreja Católica (“melhor garantir”), cheia de estátuas de Buda na sala de estar (“para trazer paz”) e com gosto em virar madrugadas assistindo aos pastores na TV (“o do chapéu de vaqueiro é demais!”).
Em “Pulphead”, o ensaísta norte-americano John Jeremiah Sullivan (que também é demais) escreve sobre a experiência de passar três dias num festival de rock cristão. Narra sua aventura com “os crentes” –como o ex-atleta peso pesado de luta livre (do tipo que estoura um abacaxi no sovaco gargalhando) que se encanta com “Redemption Song”, de Bob Marley.
Sullivan conta quão fácil seria descolar uma ou outra declaração sobre “fazer música com espírito amoroso para glorificar o Senhor” e então “rabiscar cada vírgula sorrindo por dentro”. E como o que ele faz é precisamente optar pelo trajeto mais difícil: ir lá, acampar com os “caras da Virgínia Ocidental em chamas por Cristo” e conhecer um pouco da realidade deles.
A proposta deste blog é esta: ir lá, sem réguas ideológicas, e conhecer um pouco da realidade deles.
Pedras, tomates ou bytes no e-mail anna.virginia@grupofolha.com.br. Bem-vindos!